terça-feira, 10 de março de 2009

Repensando os dons espirituais para os nossos dias (1Co 12:1-11)

Não é raro ouvirmos entre nós que os dons do Espírito findaram. Não ouvimos profecia, e aqueles que profetizam são alvos da nossa total desconfiança devido às feridas que foram abertas pelas chamadas “profetadas”. O falar em línguas foi banalizado, o dom de curar é comercializado por uns poucos (se é que possuem mesmo o dom), palavra de sabedoria é tão raro que fica a impressão de que não mais existe.

Os dons foram supervalorizados, como uma espécie de poder mágico concedido pelo Espírito, o que gerou soberba e interpretações errôneas. O que era um dom para servir tornou-se um símbolo de status e de uma pretensa superioridade espiritual. A partir daqui o declínio espiritual de muitas igrejas se acentuou.

Os dons foram usados para produzir "shows" e "espetáculos" com no nome de "culto" que apenas alimentavam o ego dos líderes religiosos. Transformamos o poder de Deus em um produto empresarial de alta rentabilidade.

Essa super exploração dos dons espirituais levaram ao completo esvaziamento de sentido do mesmo. Nem tudo o que era chamado de cura espiritual era realmente cura. Muito do que chamaram de profecia não passava de especulação. A super exposição dos dons levaram a um completo esvaziamento de sentido dos mesmos.

Mas o ensinamento sobre os dons espirituais é um dos pilares da caminhada cristã. Não podemos ser ignorantes quanto a essa dádiva de Deus tão necessária à sobrevivência da igreja. Precisamos resgatar a busca e o desejo pela manifestação do espírito em nosso meio, resgatando assim as nossas próprias raízes espirituais.

Porém não só isso, precisamos também abranger o sentido que os dons espirituais possuem no nosso dia-a-dia. O universo pentecostal limitou os dons a eventos sobrenaturais isolados.

A nossa intenção nessa breve reflexão é mostrar que os dons se manifestam no cotidiano, no simples, no comum, no que é banal. O Espírito não precisa de cenários e orações especiais para que venha se manifestar. Os dons são concedidos para que sejam usados a todo o momento que a igreja precisar e de maneiras mais simples do que acreditamos.

Vejamos o que Paulo nos ensina sobre os dons:

1. Os dons mostram que o nosso Deus é ativo, que fala ao homem e que se importa com ele (vs. 1-3). A ausência da manifestação espiritual faz com que a igreja perca o referencial prático da vontade de Deus.

2. A prática dos dons traz um sentido de unidade à igreja e a busca pelo bem comum (vs. 4-7). É muito fácil hoje encontrar igrejas perdidas em atividades desconectadas, rivalidades ministeriais, pois o sentido de unidade na obra da Igreja é alcançado quando cultivamos a presença do Espírito.

3. Precisamos cultivar os dons no cotidiano (vs. 8-11). Será que a sabedoria tem estado em nosso meio? Que espécie de conhecimento propagamos em nossas Igrejas? Qual o significado de milagre hoje?

A Palavra de Sabedoria pode ser a capacidade de socorrer com conselhos valiosos vidas que estão perdidas, angustiadas. O que cultiva a sabedoria espiritual, através da meditação bíblica, pode revelar a igreja os caminhos que conduzem a vida autêntica. Interessante, pois possuímos três livros na Bíblia diretamente voltados para o tema da Sabedoria e carecemos de homens e mulheres sábios no nosso meio.

Nos dias atuais estamos abarrotados de conhecimento, porém a Palavra do Conhecimento é refere-se a uma especie de conhecimento que traz edificação, o que não é tão comum quanto pensamos. Aquele que edifica vidas através do que ensina, faz a diferença. Aqueles que possuem esse dom devem cultivar o ensino que coopera para o bem da igreja, para que saibamos em Quem temos crido.

O dom da Fé deve ser; nos nossos dias, a capacidade de cultivar entre os irmãos a confiança e a esperança naquilo que Deus nos anunciou. Fé como confiança. Aqueles que possuem esse dom servem a igreja como guardiões da memória, para que nossa fé tenha base no que já vivemos e esperança no que virá.

A cura pode alcançar níveis inimagináveis. Quem possui o dom de curar na verdade possui o dom de tornar uma igreja saudável, e isso vai muito além das doenças físicas. Abrange também a capacidade de cultivar relacionamentos sadios, a cura de complexos psicológicos numa conversa sadia, num olhar carinhosos. Como afirma o pastor Ricardo Gondim, a cura pode ocorrer também na doença.

O que seria um milagre hoje senão a capacidade de desobstruir a vida de seus piores problemas, aqueles dos quais as pessoas não podem resolver sozinhas. Operar milagres inclui uma dimensão de apoio mútuo que faz “mover as montanhas” que eu sozinho não poderia mover. Seria milagre hoje promover a unidade, a fraternidade, o altruísmo?

Profetizar, muito mais do que revelar o futuro, é mostrar a vontade de Deus como uma parceira na construção do meu futuro. Muito mais do que horóscopo, é a capacidade de não se calar diante do mal e denunciar no meio da igreja aquilo que não está de acordo com a vontade de Deus. A profecia é o despertamento da consciência adormecida pela indiferença.

Sendo assim eu passo a cultivar o discernimento de espírito, ou seja, de intenções que motivam nossas ações coletivas.

Por último, o que seria a variedade de línguas e sua interpretação se não a capacidade de nos tornarmos compreensíveis uns aos outros. Esse dom me leva a pensar na capacidade que a mensagem do evangelho tem de se infiltrar nas mais diversas culturas e ao mesmo tempo ser compreensível a todos. Quando eu interpreto, eu socializo aquilo que Deus tem edificado em mim como verdade.

Conclusão

A ausência da manifestação do Espírito compromete a sobrevivência da Igreja enquanto comunidade. Leva-nos a uma fé mais teórica e egoísta, enquanto que pelos dons cultivamos a prática de um Deus que fala e faz, e também de uma igreja que tem zelo uns pelos outros.


Jorge Luiz

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