terça-feira, 29 de maio de 2012

Você morreria por sua fé?

O cristianismo, ao ser odiado pelo mundo, mostra que não é obra de persuasão, mas de grandeza. (Inácio de Antioquia)


O que você sente ao ler essa frase?

Eu pessoalmente sinto tristeza com o Cristianismo fraco e diluído no qual vivemos. Me entristeço porque estamos destruindo tudo aquilo pelo qual os mártires do passado e do presente construíram com suor e sangue, muito sangue.

Chego a ficar desestimulado com tanta conversa fiada travestida de evangelho. O que chamam hoje de pregação em nada se compara com a autêntica mensagem pela qual pessoas entregavam a própria vida. Quem hoje iria para a morte com leões por defender a teologia da prosperidade, o teísmo aberto, ou mesmo o fundamentalismo irracional? Acredito que ninguém.

Na maioria dos casos a proposta é somente um "cristianismo light". Ou seja, queremos apenas ser prósperos e politicamente corretos. Uma fé que não exige renúncia, sofrimento e radicalidade. Estamos sob um relativismo que desmancha as bases que um dia foram firmadas com o sangue dos mártires que se entregaram a Cristo por terem despertado o ódio e a repulsa do mundo.

Por quais valores morreríamos? Pelo que vale a pena morrer? O que é inegociável para você a ponto de até mesmo entregar-se ao martírio? Eu tenho me perguntando isso ultimamente.

Sugiro a todos que são cristãos que conheçam e valorizem sua história. Talvez revisitando os nossos pais poderemos redescobrir quais são os valores que devemos guardar ao ponto de morrer por eles. Só assim descobriremos o que Inácio quis dizer com uma frase tão forte e tão verdadeira.

Que Deus tenha misericórdia de nós!

quinta-feira, 24 de maio de 2012

A Estrada

Somente agora consegui assistir o filme A Estrada, baseado no livro homônimo de Cormac McCarthy, e preciso registrar que o filme é maravilhoso.

O filme conta a história de um pai que vaga com seu filho em um mundo pós apocalíptico. Não há muitos sobreviventes, e destes, alguns andam em bandos; praticando o canibalismo comum em tempos desesperadores.

Vagando em busca da sobrevivência, a procura de restos de comida e roupas, o pai tenta ensinar ao filho sobre os valores que nos tornam humanos e nos distinguem daqueles que agem como animais. Essa é a principal reflexão que a história me traz: Como manter "o fogo interior acesso" diante de um cenário tão hostil?Como preservar a humanidade em meio a um mundo caótico e bestializado? 

Durante o filme o pai dá vários sinais de que já não consegue distinguir entre os caras bons e os maus. Ele passa a considerar qualquer um que cruze o caminho deles como um inimigo em potencial. Contudo, a doença e corpo magro do pai já indicam que ele está prestes a morrer, e que não conseguirá cumprir a promessa de chegar as praias do sul com seu filho, onde ele acredita ainda haver homens bons.

Mesmo agonizante, o pai não orienta o filho a se matar, como já havia feito em outros momentos do filme. Ele acredita na vida e crê que ensinou ao filho o necessário para que ele sobreviva. Consegue manter a esperança acessa mesmo diante de um cenário tão sombrio.

Só que o pai estava enganado em um ponto: não havia pessoas boas apenas no sul. Após sua morte, uma família sobrevivente, que seguia-os a distância, resolveu cuidar do menino agora órfão de pai e mãe. Mesmo ensinando seu filho sobre os valores humanos, ele já não conseguia perceber humanidade ao seu redor, e seu isolamento causou dores ao filho e até mesmo sua morte.

Ainda não vivemos num mundo como o que foi descrito no filme, mas de semelhante modo presenciamos dias em que temos dificuldades de distinguir entre humanos e animais. Num mundo recheado de redes sociais, vivemos cada vez mais isolados porque tememos o próximo. Mas como acreditar na vida se não enxergarmos que ao nosso lado ainda caminham pessoas de valor? Como ensinar um filho a ser bom sozinho? Se somos bons ou maus, isso sempre será em relação a alguém. Como ensinou o filósofo Martin Buber, não existe o eu sem o outro.

Como manter o fogo interior acesso? Segundo o filme, a receita é conhecer os valores humanos, preservar estes valores e exercê-los em relação ao outro, buscando enxergar humanidade além de nós mesmos. 

Ótimo filme, recomendo!

terça-feira, 15 de maio de 2012

Um Cristo Superior

Ontem tive o privilégio de dar uma aula sobre o livro de Hebreus para uma turma do seminário. Para bem da verdade, isso é uma das poucas coisas que me trazem satisfação e motivação.

Percebíamos, pela leitura do livro, que a temática central girava em torno da Superioridade de Cristo. Hebreus afirma que Cristo é superior aos Anjos, a Moisés, ao Sacerdócio Levítico, aos sacrifícios de animais e as leis do Antigo Testamento como um todo. Em vários trechos o autor afirma que a primeira aliança é inútil, pois é cópia e sombra de uma realidade eterna que se consumou na temporalidade pelo ministério de Jesus.

Em Jesus o nosso entendimento na fé passa a compreender a clareza da realidade eterna da redenção de forma que tornou obsoleta a Lei, que era uma sombra imperfeita do que haveria de vir.

Portanto, após as profundas reflexões que surgiram a partir de nossas aulas, foi-me inevitável perguntar: Precisamos hoje reafirmar a superioridade de Cristo?

O autor do Livro de Hebreus estava lidando com a questão da Apostasia, que era um problema bem presente. Precisamos entender que abraçar a fé cristã, na época em que este livro fora escrito, implicava em retaliações bem maiores do que as que sofremos hoje (se é que ainda sofremos retaliações de fato). Perder os bens e tornar-se um "marginalizado" era uma condição quase que comum (Hb 10.34). Em situações como essa, não eram raros os casos de cristãos que estavam retornando para o judaísmo como uma especie de "nova salvação", já que não somente o confisco dos bens, mas também o atraso na Parusia (a volta de Jesus) colocava a mensagem dos primeiros discípulos de Jesus em descrédito.

Sendo assim, é compreensível o trabalho do autor de Hebreus em reafirmar o valor de Cristo diante do Judaísmo e clamar por uma fé que veja o futuro com otimismo e esperança, apesar das frustrações do presente.

Vivemos hoje outro contexto e temos outras demandas. Contudo, acredito que ainda se faz urgente declarar a superioridade de Cristo nos nossos dias.

E no que Cristo precisa ser declarado como superior? Dentre tantas coisas, Cristo hoje precisa ser demonstrado como sendo superior a:


  • Nossa arrogância religiosa, pois as "regrinhas" das religiões tornaram-se tão forte quanto as leis judaicas que o autor de Hebreus tanto combateu. Elas obscureceram a graça e amor de Deus revelados em Jesus, o Cordeiro que foi morto antes de todas as coisas.


  • Nossa idolatria, seja ela por dinheiro, sexo, poder, consumo, felicidade e prosperidade. Se há um valor na vida que deveria ser perseguido, que este seja claramente a vida de fé que encontra em Cristo pleno sentido e satisfação.


Acredito que quem lê esse texto deverá pensar em outras questões que exigem a nossa declaração da superioridade de Jesus. Então passo a pergunta para você: no que Jesus precisa ser declarado superior?

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Ateísmo Equivocado

Por esses dias eu tive um debate com um colega de trabalho acerca do machismo na Bíblia. Durante a conversa, ele rapidamente listou uma série de versículos que, segundo os estudiosos do ateísmo, reforçam suas convicções de que a Bíblia aprova e estimula o machismo e a violência contra a mulher.

Tentei, com toda a mansidão, explicar-lhe que a Bíblia, igualmente a qualquer outro livro histórico, precisa ser interpretado a partir do contexto histórico. Foi então que uma outra pessoa interviu no debate afirmando que sempre utilizamos esse "papo de interpretação" para fugir daquilo que está bem claro.

Quando um debate escamba para esse tipo de desonestidade intelectual, fica difícil continuar qualquer reflexão construtiva. É tipico de muitos ateus e críticos da religião acusar-nos de utilizar textos bíblicos selecionados e interpretados ao próprio gosto para defendermos nosso ponto de vista. Contudo, não seria exatamente isso que a maioria dos ateus fazem? Quando listo vários versículos bíblicos que considero negativos, e acabo excluindo muito outros de boa qualidade, não estaria eu agindo da mesma maneira que os "religiosos fanáticos" que tanto critico?

A Bíblia é sim um livro que exige interpretação, pois se a lermos com nossas lentes pós-moderna simplesmente não a entenderemos, e a julgaremos mal. Não vejo ninguém lendo os textos de Nelson Rodrigues de forma literal, pois quem assim o faça julgará que esse autor é bem machista, já que as mulheres que descritas em suas crônicas são, na maioria, de moral bastante duvidosa. Sendo assim, acredito que as pessoas que leem Nelson Rodrigues o interpretam nos seus objetivos, já que dificilmente escuto alguém o chamando de machista e detrator de mulheres.

Estou fazendo essa comparação apenas para destacar que a Bíblia, assim como qualquer outra literatura, precisa ser interpretada respeitando o seu contexto. Afirmar que a Bíblia criou o machismo (e o mesmo vale para outros diversos males sociais) é no minimo um preconceito burro. Havia machismo, escravidão, roubo e mentiras muito antes de qualquer página bíblica ter sido escrita. O que poucos querem entender ou aceitar (isso vale para ateus e fundamentalistas), é que muitos textos bíblicos reproduzem alguns aspectos presentes na consciência social daquele tempo.

Entender que há textos bíblicos que estão mais alinhados com as convenções sociais do que com o real caráter de Deus não a torna menos sagrada ou menos valorosa. Pelo contrário, revela que ela é um escrito honesto e ao mesmo tempo fascinante. A Bíblia não esconde as falhas para agradar a ninguém, mas quer somente revelar a verdade para aquele que sinceramente a busca.

Jesus, que é a verdadeira chave de interpretação bíblica, sempre valorizou as mulheres. Haviam discípulas que lhe seguiram tão de perto que a primeira pessoa a testemunhar a ressurreição de Cristo foi Maria Madalena (Mateus 28:1-10; Marcos 16:1-5,10,11; Lucas 24:1-10). Se entendermos que no tempo de Jesus o testemunho de uma mulher era desconsiderado pelo simples fato de ser mulher, percebemos que, ao se revelar ressuscitado para as mulheres, Ele reafirmava todas as mulheres no seu valor.

O mesmo podemos dizer com a respeito do episódio da mulher adúltera (João 8.3-11). Esta seria apedrejada de forma intencionalmente machista, pois a lei afirmava que o casal adultero é que deveria ser julgado. Jesus a salva mostrando que o pecado está para além da questão do gênero, e que a graça estendida ao adultero deve ser a mesma oferecida a adultera.

É uma pena que textos como esses nunca são considerados pelos que querem apenas ridicularizar a religião dos outros. Aos que desejam aprender som honestidade e sem preconceito, sugiro uma leitura dos evangelhos, para que você interprete quem é Jesus, pois somente a partir de Jesus é que as Escrituras Sagradas revelam sua real mensagem.