quinta-feira, 25 de agosto de 2011

O BRASIL URBANO

Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/o-brasil-urbano, em 19/08/2011

É comum se aceitar que o processo de aceleração da urbanização no Brasil se deu a partir de 1950, pois ela só começou quando a indústria se tornou o setor mais importante da economia nacional. A passagem de uma economia agrário-exportadora para uma economia urbano-industrial ocorreu no século 20 e intensificou-se a partir de 1950. Iniciou-se, assim, o processo de “metropolização”, que diz respeito à concentração demográfica nas principais áreas metropolitanas do país. Graças a ele, o Brasil é hoje majoritariamente urbano, como comprovam os números do censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).


Quando se compara o censo de 2000 com o de 2010, chamam a atenção o aumento de 20.933.524 do total da população brasileira (cerca de 2 milhões por ano nos últimos 10 anos) e a diminuição de 1.999.225 habitantes das áreas rurais.

Para chegar a esses números o IBGE percorreu todo o território nacional (cerca de 8 milhões de quilômetros quadrados). A tarefa que envolveu 5.565 municípios, aproximadamente 58 milhões de domicílios e 314.018 setores censitários.1

Proponho algumas reflexões a partir dos dados.

“É necessária uma eclesiologia que olhe com cuidado para a rede de pobreza extrema nacional”. O aumento do total da população brasileira e a diminuição da quantidade de pessoas nas áreas rurais certamente intensificarão a rede de extrema pobreza nacional. De acordo com Antônio Márcio Buainain, professor do Instituto de Economia da Unicamp, “no plano mais estrutural o governo tem dois reptos: de um lado, elevar os investimentos públicos necessários para dar sustentação à expansão da economia, tarefa que vai bem além de construir estádios e reformar aeroportos para a Copa e a Olimpíada; e, de outro, erradicar ou pelo menos reduzir consideravelmente a pobreza extrema em que vivem cerca de 16 milhões de brasileiros, segundo recente estimativa do IBGE”.2

A eclesiologia brasileira dará conta dessa realidade?

“Os ‘sem-igreja’ ficarão de fato sem igreja?” Mesmo que o censo 2010 ainda não tenha disponibilizado os dados sobre a religião no Brasil, é sabido que entre 1950 e 2000 o número de brasileiros que se declararam sem-religião aumentou de 0,5% para 7,4% da população. Espera-se, portanto, um novo aumento no censo de 2010. É possível que já tenhamos cerca de 20 milhões de pessoas no Brasil que se declarem sem-religião.

“A religião foi perdendo sua plausibilidade, deixando de ser hegemônica. O sagrado que permeava a vida das pessoas, influenciando-as no seu dia-a-dia, vai sendo superado por outras formas racionalistas de encarar a realidade. Para Luckmann, um dos efeitos da secularização pode ser a privatização da religião e suas instituições, que, pela variedade de valores que oferecem ao consumidor, [fazem surgir] o que o autor chama de religião invisível”.3 Por que a igreja brasileira não acorda para esse gigante chamado secularização?

“Jovens buscam a fé sem a igreja”. O que dizer da nova forma de religiosidade crescente entre os jovens brasileiros, os crentes sem religião, que valorizam a fé, mas não se vinculam a uma igreja? Segundo José A. Paz, “a novidade reside precisamente nos crentes sem religião. ‘O espírito buscador do jovem não procura uma instituição religiosa que o enquadre, mas uma doutrina em que ele se encontre’, declarou a antropóloga Regina Novaes para a “IstoÉ”. A concepção de que a fé só poderia ser vivida dentro de uma religião ou de uma igreja passa a ser questionada pela juventude... para o jovem brasileiro, ter fé é mais importante do que seguir uma doutrina. Segundo [a] matéria da “IstoÉ”, ‘os símbolos religiosos antes difundidos na igreja e no âmbito familiar circulam mais por outras áreas de domínio público’, como nos blogs, nas camisetas, nas feiras, na moda. Sem dúvida, um desafio para as igrejas históricas, pentecostais, neopentecostais, na busca de jovens para suas fileiras”.4

“Por que os pastores e as conferências missionárias não se preocupam em estudar a cidade como campo missionário?” Preserva-se uma prática pastoral rural para uma realidade urbana, tanto na metodologia quanto na linguagem, nas estratégias, no estilo de pregação, na forma de exercer a liderança e no cuidado com as pessoas. Muitas conferências missionárias não têm mais um caráter reflexivo, mas lucrativo. Apela-se para os resorts, os hotéis, a comida, e a conferência torna-se um pano de fundo. As igrejas realizam conferências missionárias, mas permanecem no modelo de “missões” (no plural -- transcultural) e não “missão” (no singular -- missional, natureza da igreja). Missões é uma das atividades da igreja missional. Barth afimou: “Uma igreja que conhece sua missão não poderá nem quererá, em nenhuma de suas funções, persistir em ser igreja por amor de si mesma”.5 Já passou da hora de a cidade fazer parte da agenda de nossas reflexões.

As margens do Ipiranga já não são mais plácidas. Os nossos bosques -- dos centros urbanos -- já não têm tanta vida. Os guetos, becos e favelas mostram que não estamos deitados eternamente em berço esplêndido. A justiça não é uma clava forte, antes, se assemelha mais a uma cana fácil de se esmagar. E a igreja, também não foge à luta?

Notas1. Disponível em: www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1. Acesso em 17/05/11.
2. “O Estado de S. Paulo”, 17/05/11.
3. ARAÚJO, Sérgio e SEBATINI, F. “Sobre secularização”. “Caminhos”. Revista do Mestrado em Ciências da Religião da Universidade Católica de Goiás. Goiânia, p. 261-273, 2004, v. 2.
4. Disponível em: www.alcnoticias.net/interior.php?lang=689&codigo=11769. Acesso em 07/01/11.
5. BARTH, K. “Esbozo de dogmática”. Milão: Editorial Sal Terrae, 2000. p. 169-170.

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Jorge Henrique Barro
é diretor da Faculdade Teológica Sul Americana e vice-presidente da Fraternidade Teológica Latino Americana (continental).

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

OS SEM-IPAD

Texto de Luiz Felipe Pondé publicado originalmente na Folha de S.Paulo


Você sabia que agora existe em Londres o movimento dos sem-iPad? Coitadinhos deles. Quebram tudo porque a malvada sociedade do consumo os obriga a desejar iPads… No passado todo mundo era “obrigado” a desejar cavalos, tecidos de seda, especiarias, facas, tambores, ouro, mulheres…

Como ficam as pessoas que desejam, não têm, mas nem por isso saqueiam lojas, mas sim trabalham duro? Seriam estes uns idiotas por saberem que nem tudo que queremos podemos ter e que a vida sempre foi dura?

Esta questão é moral. Dizer que não é moral é não saber o que é moral, ou apenas oportunismo… moral. Resistir ao desejo é um problema de caráter. Um dos pecados do pensamento público hoje é não reconhecer o conceito de caráter.

Logo existirão os “sem-Ferrari”, os “sem-Blackberry”, os “sem-Prada” também? Que tal um “bolsa Blackberry”? Devemos criar um imposto para os “sem-Blackberry”?

Na Inglaterra, dizem, existem famílias que nunca trabalharam vivendo graças ao governo há gerações. É, tem gente que ainda não aprendeu que não existe almoço de graça.

Mas esse fenômeno de querer desculpar todo mundo da responsabilidade moral do que faz não é invenção de quem hoje justifica a violência em Londres clamando por justiça social na distribuição de iPads.

É conhecida a passagem na qual o “homem do subsolo” no livro “Memórias do Subsolo”, de Dostoiévski, abre suas confissões dizendo que é um homem amargo. Em seguida, alude à teoria comum de que ele assim o seria por sofrer do fígado. Logo, a culpa por ele ser amargo seria do fígado.

Ele recusa tal desculpa para sua personalidade insuportável e prefere assumir que é mesmo um homem mau. Eis um homem de caráter, coisa rara hoje em dia.
Agora, todo mundo gosta de “algum fígado” (a sociedade de consumo, o patriarcalismo, a Apple) que justifique suas misérias morais.

O profeta russo percebeu que as ciências preparavam uma série de teorias que tirariam a responsabilidade do homem pelos seus atos.

A moda pegou nos jantares inteligentes e hoje temos vários tipos de “teorias do fígado” para justificar nossas misérias morais.

Uma delas é a teoria de que somos construídos socialmente.

Dito de outra forma: O “sujeito é um constructo social”. Logo, quebro loja em Londres porque fui “construído” para enlouquecer se não tenho um iPad. Tadinho…

Tem gente por aí que tem verdadeiro orgasmo com essa bobagem.

Não resta dúvida de que há algo verdadeiro na ideia de que somos influenciados pelo meio em que vivemos.

Por exemplo, se você nasce numa favela, isso não vai passar “desapercebido” nos seus modos à mesa, no seu comportamento cotidiano e nas suas expectativas e possibilidades na vida.

Mas aí dizer que “o sujeito é um constructo social” é pura picaretagem intelectual. Ninguém consegue ou conseguirá provar isso nunca, mas quem precisa de “provas” quando o que está em jogo são as ciências humanas, que de “ciência” não têm nada.

Esse blábláblá não só exime o sujeito da responsabilidade moral, como abre a porta para todo tipo de “experimento” psicossocial, político ou justificativa moral, que, na realidade, serve pra qualquer um inventar todo tipo de conversa fiada em ciências humanas “práticas”.

Por que tanta gente adora essa teoria? Suponho que, antes de tudo, o alivie de ser você e coloque a “culpa” de você ser você no pai, na mãe, na escola, na vizinha, na sociedade, no consumo, na igreja, no patriarcalismo, no machismo, na cama de casal, no iPad, no diabo a quatro. Menos em você.

Temos aí uma prova de que grande parte das ciências humanas não reconhece o conceito de caráter.

Moral é exatamente você resistir a impulsos que outras pessoas, sem caráter, não resistem. Já leu Aristóteles? Kant?

A “culpa” do que hoje acontece em Londres não é do consumo. Homens sempre quebram coisas de vez em quando e querem coisas sem esforço. As causas podem variar. Hoje em dia, seguramente, uma delas é que muita gente está acostumada a um Estado de bem estar social que os trata como bebês.

A preguiça, sim, é um traço universal do ser humano.


Fonte: Pavablog, em 24/08/2011, http://networkedblogs.com/m3xrZ

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Evangélicos sem espetáculo

Autor: Nicholas D. Kristof, The New York Times - O Estado de S.Paulo
Tradução: ANNA CAPOVILLA
Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,evangelicos-sem-espetaculo,755510,0.htm 08/08/2011


Nesta época de polarizações, poucas palavras provocam tanta aversão nos ambientes liberais quanto "cristão evangélico".

Em parte, isto se explica porque, nos últimos 25 anos, os evangélicos foram associados a personagens rabugentos e fanfarrões. Quando os reverendos Jerry Falwell e Pat Robertson debateram na televisão se os ataques de 11 de Setembro foram uma punição de Deus contra as feministas, os gays e os secularistas, Deus deveria tê-los processado por difamação.

Anteriormente, Falwell defendera que a aids é "o julgamento de Deus sobre a promiscuidade". Esta presunção religiosa permitiu que o vírus da aids se espalhasse, constituindo uma imoralidade maior do que tudo o que poderia acontecer nas saunas gays.

Em parte, por causa desta postura bem-pensante, todo o movimento evangélico frequentemente foi condenado pelos progressistas como reacionário, míope, irracional e até mesmo imoral.

Entretanto, esse menosprezo casual é profundamente injusto, se considerarmos o movimento como um todo. Ele reflete um tipo de intolerância às avessas, às vezes um fanatismo às avessas, dirigido contra dezenas de milhões de pessoas que na realidade se envolveram cada vez mais na luta contra a pobreza e na defesa da justiça global.

                                                                                John Stott

Essa linha compassiva da corrente evangélica foi dotada de bases extremamente sólidas pelo reverendo John Stott, um moderado estudioso inglês que influiu de maneira muito mais importante no cristianismo do que astros da mídia como Robertson ou Falwell. Stott, que morreu há alguns dias aos 90 anos, foi incluído na lista das cem pessoas mais influentes do globo da revista Time. Em termos de estatura, às vezes foi considerado o equivalente do papa entre os evangélicos de todo o mundo.

Stott não pregou acenando com a ameaça das penas do inferno numa rede cristã de televisão. Ele foi um humilde estudioso cujos 50 livros aconselham os cristãos a emular a vida de Jesus - principalmente sua preocupação com os pobres e os oprimidos - e a se opor a mazelas sociais como a opressão racial e a poluição ambiental.

"Os bons samaritanos sempre serão necessários para socorrer os que foram assaltados e roubados; entretanto, seria melhor acabar com os bandoleiros na estrada de Jerusalém a Jericó", escreveu Stott em seu livro A Cruz de Cristo. "Por isso, a filantropia cristã em termos de alívio e ajuda é necessária, mas muito melhor seria um aprimoramento a longo prazo, e nós não podemos fugir da nossa responsabilidade política e da necessidade de participar da transformação das estruturas que inibem este aprimoramento. Os cristãos não podem olhar com tranquilidade as injustiças que arruínam o mundo de Deus e degradam suas criaturas".

Stott deu exemplos das injustiças contra as quais os cristãos precisam lutar: "os traumas da pobreza e do desemprego", "a opressão das mulheres", e na educação, "a negação de iguais oportunidades a todos".

Para muitos evangélicos que sempre se retraíam quando um "televangélico" ganhava as manchetes, Stott era um guru intelectual e uma inspiração. Richard Cizik, presidente da Nova Igreja Evangélica Parceria para o Bem Comum, que trabalhou heroicamente para combater desde o genocídio até a mudança climática, me disse: "Contra a charlatanice e a irracionalidade no nosso movimento, Stott permitiu afirmar que você é "evangélico" e não deve se arrepender".

O reverendo Jim Wallis, diretor de uma organização cristã chamada Sojourners (Os visitantes), que trabalha em prol da justiça social, acrescentou: "John Stott foi o primeiro líder evangélico importante que defendeu o nosso trabalho na Sojourners". Stott, que foi um aluno brilhante em Cambridge, também ressaltou que a fé e o intelecto não precisam ser conflitantes.

Há muitos séculos, o estudo profundo da religião era extraordinariamente exigente e rigoroso; por outro lado, qualquer um podia declarar-se cientista e passar a exercer a alquimia, por exemplo. Hoje, é o contrário. Um título de doutor em química exige uma formação rigorosa, enquanto um pregador pode explicar a Bíblia pela televisão sem dominar o hebraico ou o grego - ou mesmo sem mostrar interesse pelas nuances dos textos originais.

Os que se denominam líderes evangélicos revelam-se hipócritas, transformando Jesus em lucro em lugar de emulá-lo. Alguns parecem inclusive homofóbicos, e muitos que se declaram "a favor da vida" parecem pouco preocupados com a vida humana depois que ela sai do útero. São os pregadores que aparecem nas manchetes e são menosprezados.

Escrevendo sobre a pobreza, as doenças e a opressão, encontrei outros ainda. Os evangélicos estão desproporcionalmente dispostos a doar o dízimo do que ganham a obras de caridade, em geral ligadas à igreja. O mais importante é que se procuramos nas linhas de frente, nos EUA ou no exterior, nas batalhas contra a fome, a malária, as violações nas prisões, a fístula obstétrica, o tráfico de pessoas ou o genocídio, alguns dos mais corajosos que encontramos são cristãos evangélicos (ou católicos conservadores, que a eles se assemelham de muitas maneiras) que vivem verdadeiramente a sua fé.

Não sou particularmente religioso, mas reverencio os que vi arriscando sua vida dessa maneira - e me enoja ver esta fé ridicularizada em coquetéis em Nova York.

Por que tudo isto é importante?

Porque tanto as pessoas religiosas quanto as seculares fazem um trabalho fantástico em questões humanitárias - mas elas frequentemente não trabalham juntas em razão das suspeitas mútuas. Se pudermos superar este "abismo divino", poderemos progredir muito mais no combate às mazelas do mundo.
E esta seria, realmente, uma dádiva divina.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Reafirmações


Estamos vivendo dias em que se faz necessário reafirmarmos nossas posições. No afã de inovarmos, acabamos por esquecer de onde viemos. Na busca do novo menosprezamos o velho. Desta forma, reafirmar também representa relembrar, reorganizar, reposicionar-se aos valores do princípio de nossa caminhada.

Vale ressaltar que esse processo não significa involuir, regredir. Pelo contrário, só podemos avaliar a “qualidade” da evolução a medida que ela condiz com os valores que inicialmente nos nortearam. Exemplo: se na minha caminhada cristã a oração era um valor essencial e na minha caminhada eu fui gradativamente me distanciando dessa prática, então é necessário refazer os passos e reafirmar os primeiros valores. Caso contrário, refaça sua lista de princípios.

Assim faço meu auto-exame; relembrando de onde vim para avaliar melhor para onde estou indo. Nesse sentido, estou pontuando algumas posições pessoais que me auxiliem na caminhada como cristão e como membro de uma comunidade de Cristo.

  1. Reafirmo minha origem pentecostal, assim como reconheço meu distanciamento dessas prática. Nasci na fé em meio as reuniões de busca pelo bastimo com o Espirito Santo. Fui batizado e abençoado com o dom de falar em línguas estranhas. Acredito que os dons espirituais são tão importantes quanto o caráter cristão aprovado. Um não precisa excluir o outro. Contudo, a medida que estudamos e “amadureçemos”, passamos a considerar a experiência sobrenatural como um “conhecimento de nível inferior”. Como desculpa para evitar as “criancices espirituais”, tornamo-nos na prática “pentecostais não-praticantes”, se é que há possibilidade de existir tal condição. Reafirmar o pentecostalismo que um dia vivi significa hoje perder o medo de errar, de agir como menino, e procurar conciliar melhor a teoria e prática.
  2. Se há uma mensagem que permeia a Bíblia, ela está ligada ao arrependimento. Antes mesmo de Jesus, João Batista e os profetas anteriores já afirmavam essa necessidade (Mt 3.12 e 4.17). Todos os nossos esforços, como igreja e como cristão, deveriam estar baseados no ministério da reconciliação definido por Paulo (2Co 5). Reafirmar a mensagem do arrependimento é o princípio da missão, pois para quê evangelizaremos? E não só da missão, como também da própria espiritualidade, já que o arrependimento implica num estar em paz com Deus. Falar de arrependimento é como efeito dominó: exige uma reflexão sobre o que é pecado, graça, amor, justiça e salvação.
  3. Reafirmo a oração como meio eficaz para estreitarmos nossa relação com Deus. Não basta reconciliar-se; é preciso tornar-se íntimo de Deus. Oração é como uma permissão para que haja relacionamento verdadeiro, pois assim como preciso sempre manter a comunicação com minha esposa para que nossa relação cresça, também preciso manter o contato com Deus. E da mesma forma que não apenas falo, mas também escuto o que minha esposa tem a me dizer, também preciso entender que oração inclui o calar-se com reverência, escutando a voz de Deus.
  4. Reafirmo a necessidade de dialogar com o mundo sem abrir mão da cosmovisão bíblica. Como afirmou Stott no título de um de seus livros, devemos “ouvir o Espírito e ouvir o mundo”. Contudo, é ilusório pensarmos que, nesse embate, sempre alcançaremos posições equilibradas. Desse modo, prefiro sempre ouvir o Espírito, por mais que pareça retrogrado e politicamente incorreto. Que padrões deverão nos nortear senão os padrões definidos por Deus?

Continuarei numa próxima.

Poligamia volta ser comum em Israel

Os comentaristas do jornal Yedioth Ahronoth se questionam: “Estamos prestes a testemunhar um novo fenômeno em Israel, nos próximos anos, o de um homem casado com várias mulheres? O fenômeno era comum no povo de Israel nos tempos antigos”. O rei Salomão era casado com 1.000 mulheres, o rei Roboão tinha 78, e o rei Davi tinha “só” 18.

Cerca de mil anos atrás, o rabino Gershom emitiu uma proibição da bigamia, proibindo essa prática entre os judeus asquenazes. Os sefardistas, nos séculos passados, também abandonaram a tradição de ter mais de uma esposa. Os panfletos distribuídos nas sinagogas apareceram no jornal semanal Shabbat B’Shabbato, e incentivam os sefarditas a retomar a prática, citando um documento haláquico (isto é, relativo à aplicação da lei), escrito há vários anos pelo rabino Yosef Ovadia (foto), em que não se exclui o fenômeno da poligamia.


“As cortes que impõem agravantes aos sefarditas nesse campo estão erradas”. Não está claro se o rabino Ovadia apoiaria a poligamia hoje, mas os autores do folheto defendem, com base nessa visão, que, segundo a Halachá, ter mais de uma mulher não seria mais proibido nos círculos sefarditas atuais.

Os panfletos remetem os leitores a um site, o da organização Jewish Home, onde estão publicadas as citações de uma série de autoridades religiosas ao longo dos séculos, quase como se quisessem dizer que a regra que proíbe a poligamia não é mais válida. E o site também oferece testemunhos e histórias de homens e de mulheres com experiências de poligamia.

Outro site defende que os panfletos e toda a campanha foram financiados e patrocinados por um grupo de mulheres religiosas e solteiras, que abandonaram a esperança de encontrar uma alma gêmea. Uma delas, de 39 anos, disse: “Sou uma solteira religiosa e tenho medo de perder a possibilidade de me tornar mãe”. Ela acrescentou que existem outras 27 mulheres como ela, que ficariam felizes em se casar com um homem já casado.

Mas o que é surpreendente é que o fenômeno, quase ao mesmo tempo, faz a sua aparição no campo oposto, isto é, entre os beduínos do Negev. Nos jornais locais, aparecem conselhos para as mulheres com mais de 30 anos, e ainda solteiras, para que levem em consideração a poligamia: “É a solução da Sharia”. Uma vez que a poligamia é ilegal no estado de Israel, as pessoas que deram início à campanha preferem permanecer anônimas e serem conhecidas só como “Comitê do Negev para os direitos das mulheres”.

Embora a poligamia seja ilegal, e qualquer homem que se case com mais de uma mulher corre o risco de ser preso, o fato é que a lei é aplicada muito raramente. Um anúncio publicado no jornal Al Haddat, da cidade de Rahat, de maioria beduína, defende que o objetivo da campanha é ajudar as mulheres com mais de 30 anos e não encontram marido.

A propaganda mostra uma mulher beduína de 34 anos que conta como se sente, dizendo que “o futuro é deprimente”, porque todas as suas amigas já estão casadas e ela não sabe se conseguirá ser mãe. Depois vem a pergunta: “Qual é a solução para 7.514 mulheres do Negev que têm mais de 30 anos e ainda estão solteiras?”, colocada abaixo da imagem da mulher, seguida da resposta: “Poligamia, a solução da Sharia”. O anúncio coloca uma condição importante (prevista, além disso, pela tradição islâmica), ou seja, que a poligamia é permitida se o homem puder tratar cada mulher da mesma maneira. Quem não se sente preparado, que se limite a uma esposa.

Mas o fenômeno, embora ilegal, parece estar crescendo, pelo menos na comunidade beduína. Segundo a Associação para os Direitos Civis em Israel entre os beduínos do Negev, tem havido, nos últimos anos, um crescimento de 30-40% nas uniões poligâmicas. Obviamente, cobertas por grande discrição.

Tradução: Moisés Sbardelotto

Fonte: Pavablog, 08/08/2011, http://networkedblogs.com/lp1s8