sábado, 29 de outubro de 2011

30 anos

Hoje completo 30 anos de vida. Desde já espero ainda escrever muitas páginas à frente, mas no meu livro da vida, muita coisa eu já escrevi e li.
 
Minha história está repleta de erros e acertos, choros e risos, tempestades e calmarias. Até aí nenhuma novidade, pois a vida de todo mundo é assim. Contudo, hoje consigo aceitar melhor o fato de que cada momento da minha história, até mesmo aqueles que não me agradam; contribuíram para tornar-me o que sou. Pode parecer bobagem, mas aceitar a própria história é realmente algo libertador.
Com isso, já posso tirar algumas lições para escrever melhor as próximas paginas do meu livro da vida. Aprendi, por exemplo, que existe uma linha tênue entre obstinação e loucura. Graças ao meu pai hoje eu entendo que alguém deveras obstinado é incapaz de ouvir conselhos e reavaliar sua posição e seu caminho. O obstinado é facilmente escravizado pelos seus sonhos. Perdoem-me os que consideram a obstinação uma qualidade, mas nesses 30 anos de vida aprendi que ela é um terrível defeito.
Descobri que a humildade é a virtude mais desejável. Com ela, estamos abertos a ouvir quem está ao nosso redor, e a reavaliar a rota quando nos percebemos errados. Verdadeiramente, reconhecer os seus próprios erros é uma capacidade que pertence apenas aos humildes.
Com a humildade vem à gratidão, e sem ela ninguém é capaz de reconciliar-se com seu passado. Gratidão substitui à revolta e te faz entender que nem tudo que ocorre na vida estava passível de controle.
Saber de tudo isso não significa dizer que já possuo e domino essas qualidades. De fato, ainda há muito a ser construído no meu caráter. Mas o fato de entender e tentar viver de acordo com essas verdades já me deixa bastante animado. Torno-me alguém melhor.
Que nas próximas páginas da minha vida o enredo esteja pautado nessas orientações. Apenas não quero esquecer de que neste livro, existe um “coautor” capaz de transformar-me cada vez mais no melhor personagem da minha própria história.

A Jesus, o autor da minha Vida.


    

Batalha Espiritual - Parte 1


Para quem é evangélico há mais de dez anos sabe que o tema “batalha espiritual” estava entre os mais comentados e estudados. Se houvesse twitter, facilmente seria um trending topic entre os temas religiosos. Seminários, retiros, vídeos, livros e apostilas sobre esse assunto eram vastos. Até mesmo grandes nomes entre os pastores evangélicos chegaram a escrever livros sobre essa temática[1].
Contudo, hoje é um assunto praticamente marginalizado. Quem ousa falar em batalha espiritual é considerado fundamentalista, ignorante, medievalista... Em suma, um completo “fora de moda”. Os pregadores do evangelho “atualizado” e pós-moderno afirmam que Satanás, demônios, possessão e opressão espiritual são conceitos de uma cosmovisão mitológica que isenta o homem da culpabilidade de seus próprios atos de maldade. Ou seja, é o mesmo que acreditar em Saci-Pererê e Mula-sem-cabeça, afirmando que quem faz a “traquinagem” é o saci, e não eu.
Para estes pseudointelectuais da religião, o mal é apenas ausência de Deus e a maldade são as ações humanas daqueles que estão longe do propósito divino. Abandonar a ideia de que há um ser espiritual maligno que age sobre a humanidade é algo libertador, pois faz com que sejamos honestos com nossos defeitos e falhas.
Mesmo sabendo que serei tachado de fundamentalista e infantil, não me esquivo de dizer que não acredito nesse evangelho intelectual. Discordo dessas construções filosóficas e acredito piamente que tal postura apenas contribui para que Satanás e seus servos possam agir de forma acobertada e tranquila.
Uma das primeiras falácias da lógica dos "novos" eruditos evangélicos está na afirmação de que a crença na existência do diabo isenta o homem de ser responsabilizado pelos seus atos. Verdadeiramente uma coisa não anula a outra. A Bíblia revela que Satanás sugere e busca convencer homem de que viver contra a vontade de Deus é o melhor caminho. Porém, transformar essa sugestão em prática de vida é uma escolha da vontade humana. Foi isso que aconteceu no Éden, e que ainda ocorre até hoje.
Quem torna o mal uma realidade no mundo é o homem, e Satanás contribui para esse processo. Guardando as devidas proporções, podemos comparar como um crime em que há um autor intelectual e o criminoso de fato. Perante a lei, ambos são culpados, tanto aquele que planejou como o que executou o crime.
Perdoem-me o possível literalismo, mas prefiro permanecer com a Bíblia que faz uma afirmação enfática: O mundo jaz no Maligno! (1Jo 5.19). A intenção do autor é afirmar que os sistemas humanos de governos opressores são produtos da ação do mal sobrenatural sobre a terra. Negar a realidade de que Satanás continua a agir sobre os caminhos da humanidade é a receita certa para produzirmos um evangelho adulterado, imoral e que apenas servirá aos interesses do príncipe das trevas.
Paulo também afirma que nossa luta não é contra homens, mas contra a influência dos poderes dos espíritos do mal (Ef 6.12). Ao citar a metáfora da armadura de Deus, ele está falando sobre como o discípulo de Jesus pode estar capacitado para lutar contra todas as investidas do inimigo.
Continuarei esse texto procurando entender como a metáfora da armadura de Deus nos ensina sobre a verdadeira Batalha Espiritual que um discípulo deve travar contra os poderes do diabo. Por hora, me contento em reafirmar que o inimigo existe sim. De natureza espiritual, ronda-nos como um leão feroz, tramando para nos conduzir a posturas e atitudes destrutivas, que nos desviam da verdadeira fé e caminho (1Pe 5.8).
Apesar de agir contra os propósitos de Deus, sua existência não implica em livrar o homem da culpa de seus atos. Assim como o Espirito Santo de Deus é a força que nos inspira a viver uma vida de acordo com a vontade de Deus, Satanás e seus servos agem como um poder sobrenatural que insufla o homem a permanecer escravo de suas paixões egoístas. O campo de batalha está instalado nas nossas emoções, motivações e decisões. Mas cabe a nós a ação final.


[1] Caio Fabio escreveu o livro Batalha Espiritual e Ricardo Gondim Os Santos em Guerra.

sábado, 22 de outubro de 2011

Ore por sua vida

Oração não é apenas petição. Contudo, se fores pedir, peça vida e sabedoria.
Porque saúde não significa viver muito: quantos morrem repentinamente sem estarem doentes? Assim, quem entende o valor da vida com sabedoria descobre que o seu valor é bem maior que as enfermidades que nos acometem.
Dinheiro não significa viver muito. Pode proporcionar conforto e também muitas tragédias. Ou não é verdade que filhos matam seus pais e que familiares passam a se odiar apenas para desfrutar dos prazeres do "vil metal"?
A cada dia me convenço que o melhor a se pedir é a benção de uma vida longa e bem vivida. Porque vida longa é a melhor ação de Deus parar dobra nosso orgulho e egoísmo. Vida longa nos proporciona valiosas chances de mudar, e que seja pra melhor.
Vida bem vivida incluir ser grato por tudo que somos e conquistamos. Gratidão é a semente da humildade, porque quem é grato sabe que não alcançou nada sozinho.  E assim, reconhece Deus, família, amigos, opositores e até mesmo inimigos como parte de tudo que o faz ser quem é.

Sendo assim, peça a Deus vida longa e bem vivida, com sabedoria, humildade, respeito, sem nunca esquecer a gratidão.

Jorge

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A Busca de Jesus (Mc 11.12-25)


Uma das melhores formas de interpretar bem um texto bíblico é fazer perguntas a ele. Verdadeiramente a intenção de muitas passagem é gerar em nós dúvidas para que assim alcancemos as melhores respostas.

Vale salientar que não há perguntas “bobas” quando se trata de Bíblia. Toda pergunta originada de uma leitura séria e devotada é válida e importante. São a partir delas que novos caminho para o entendimento bíblico podem ser desbravados.

Sendo assim, uma das primeiras perguntas “bobas” que faço ao ler esse texto é: Que problema Jesus tinha com a figueira? Que mal fez a pobre figueira para ser amaldiçoada e morta? Antes de responder essa pergunta, precisamos procurar entender um pouco sobre esta árvore.


A figueira e seu significado

Assim como a videira, a figueira era um simbolo da nação de Israel por ser comum em seus territórios. Era uma árvore significativa, já que seus frutos serviam para alimentar e para produzir remédios. É uma arvore vistosa e seus galhos se espalham de tal forma que geram uma sombra espaçosa e agradável.

A época de frutos bons era o mês de Junho, e provavelmente os eventos narrados em Marcos ocorreram em Abril. Contudo, figueiras frondosas no mês Abril costumam já estar com os chamados “frutos precoces” (no hebraico pash, que já indicavam a futura colheita). Estes não eram tão bons quanto os da safra de Junho, mas eram próprios para consumo.

O desapontamento de Jesus e sua atitude para com a figueira se justificam pelo fato de que ele esperava encontrar pelo menos frutos verdes para poder se alimentar. De certa forma podemos dizer que as folhas frondosas da figueira “enganaram” Jesus.


Uma parábola encenada

Jesus amaldiçoa a figueira para representar aos discípulos o que ocorreria logo adiante. Note que Marcos corta a parábola com o episódio de Jesus e os comerciantes do Templo. Sua ira se justifica pela mesma decepção provocada pela videira sem frutos.

O Templo e a figueira são sinônimos de estruturas belas, porém infrutíferas. Assim como a figueira tem como função fornecer alimento e remédio, o Templo deveria ser o lugar para se buscar a Deus em orações e receber dele cura, perdão e sentido para a vida. Contudo, Jesus não encontra no templo o “fruto espiritual” que procurava, assim como não encontrou fruto na figueira.

A figueira e o Templo são representações de uma condição de aparência. É o chamado “parece mas não é”. O Templo tornou-se um lugar de ladrões que formaram um sistema de engano, apegado a rituais vazios e contaminados por amor ao dinheiro. Alimento de verdade não havia ali, apenas exploração da fé e alienação.


Conclusão

Fica claro que Jesus não encontrou no Templo aquilo que ele realmente procurava, assim como não encontrou os frutos da figueira. A maldição que secou a figueira representa a ira da decepção de Jesus sobre o tipo de religiosidade inoperante e enganosa que reinava em plena Casa de Deus.

O que então Jesus procura? Com certeza a essência: assim como fruto é a razão de ser da árvore, a vida com Deus é a razão de ser de uma comunidade cristã. Esta vida é fundamentada no pilar da oração, perdão e fé.

Perceba que Jesus critica o Templo por não ser mais um lugar de oração. Ora, a oração acompanhada de um coração quebrantado é mais agradável a Deus do que os holocaustos e sacrifícios vãos (Os 6.6). É somente através da oração que podemos criar vínculos verdadeiros e transformadores com Deus.

Oração e Perdão caminham juntos, até porque viver em reconciliação com Deus exige a capacidade de reconciliar-se com o próximo. Quem busca o perdão de Deus não precisa sacrificar animais, e sim sacrificar a si mesmo, seus direitos e suas razões e liberar a graça sobre os outros para que assim possa experimentar a graça de Deus em si mesmo.

Nada disso se sustenta sem Fé, que significa confiar em Deus pelo que ele é, e não pelo que podemos fazer para “agradá-lo”.

Acredito que Jesus continua a procurar entre nós e nossas Igrejas o mesmo fruto que ele buscava no Templo. Uma vida que esteja além das aparências, porque nelas se esconde o engano. Mais do que religiosidade, prédios luxosos, estruturas metodicamente organizadas, espera-se mais profundidade com Deus, mais perdão, mais oração e mais fé.

Fica a triste mensagem: vidas firmadas em aparência sempre secarão por faltar a verdadeira essência.


Jorge Luiz

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Precisando de Amigos


Hoje acordei me sentindo um pouco mais sozinho. Apesar de muito bem casado e feliz, sinto falta de amizades profundas e verdadeiras. Digo isso porque infelizmente constato que, apesar de ser “irmão” de muita gente, não sou considerado amigo, assim como os “irmãos” que considero amigos são tão poucos quanto os dedos de minhas mãos.

Apesar de incoerente, isso é bem comum. As comunidades cristãs são formadas na maioria por relações superficiais, pautadas na desconfiança. Quantos hoje se sentem a vontade para compartilhar sobre seus problemas? Quanto tempo gastamos em oração pelos outros? Você costuma pedir conselhos ao pastor ou outro líder ao qual confie? As respostas a essas e outras perguntas podem nos dar uma clara visão da qualidade das relações que vivemos.

São relações tão frágeis que se você mudar de congregação imediatamente perde até o posto de “irmão”. Será que as relações cristãs são de amor pela pessoa ou pela instituição, cargo ou título?

Não lembro da última vez que saí com aquele amigo que eu teria coragem de compartilhar algo da minha vida sem o temor de que amanhã essa informação estaria espalhada por toda a cidade. Até que ponto minha desconfiança com o próximo torna-me adoecido?

Nesse ponto lembro-me do texto de Tiago 5.16 que diz:

Portanto, confessem os seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros para serem curados. A oração de um justo é poderosa e eficaz.

Pergunto: você teria coragem de confessar um pecado para alguém que não confia? E se você tem plena confiança e sente-se a vontade para compartilhar algo tão serio com alguém, então esse alguém deverá ser um grande amigo. Sendo assim; confissão, oração e cura só ocorrem em ambientes de amizades profundas e verdadeiras. Coleguismo não conta e desconfiança só aprofunda ainda mais nossas tristezas.

Nesses dias me fizeram a seguinte pergunta: o que você espera de uma comunidade? Eu respondo: Espero um lugar onde eu encontre verdadeiras amizades, sinceras e duradouras. Espero poder confiar mais e ser confiável aos outros. Um lugar para não se sentir sozinho.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

O BRASIL URBANO

Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/o-brasil-urbano, em 19/08/2011

É comum se aceitar que o processo de aceleração da urbanização no Brasil se deu a partir de 1950, pois ela só começou quando a indústria se tornou o setor mais importante da economia nacional. A passagem de uma economia agrário-exportadora para uma economia urbano-industrial ocorreu no século 20 e intensificou-se a partir de 1950. Iniciou-se, assim, o processo de “metropolização”, que diz respeito à concentração demográfica nas principais áreas metropolitanas do país. Graças a ele, o Brasil é hoje majoritariamente urbano, como comprovam os números do censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).


Quando se compara o censo de 2000 com o de 2010, chamam a atenção o aumento de 20.933.524 do total da população brasileira (cerca de 2 milhões por ano nos últimos 10 anos) e a diminuição de 1.999.225 habitantes das áreas rurais.

Para chegar a esses números o IBGE percorreu todo o território nacional (cerca de 8 milhões de quilômetros quadrados). A tarefa que envolveu 5.565 municípios, aproximadamente 58 milhões de domicílios e 314.018 setores censitários.1

Proponho algumas reflexões a partir dos dados.

“É necessária uma eclesiologia que olhe com cuidado para a rede de pobreza extrema nacional”. O aumento do total da população brasileira e a diminuição da quantidade de pessoas nas áreas rurais certamente intensificarão a rede de extrema pobreza nacional. De acordo com Antônio Márcio Buainain, professor do Instituto de Economia da Unicamp, “no plano mais estrutural o governo tem dois reptos: de um lado, elevar os investimentos públicos necessários para dar sustentação à expansão da economia, tarefa que vai bem além de construir estádios e reformar aeroportos para a Copa e a Olimpíada; e, de outro, erradicar ou pelo menos reduzir consideravelmente a pobreza extrema em que vivem cerca de 16 milhões de brasileiros, segundo recente estimativa do IBGE”.2

A eclesiologia brasileira dará conta dessa realidade?

“Os ‘sem-igreja’ ficarão de fato sem igreja?” Mesmo que o censo 2010 ainda não tenha disponibilizado os dados sobre a religião no Brasil, é sabido que entre 1950 e 2000 o número de brasileiros que se declararam sem-religião aumentou de 0,5% para 7,4% da população. Espera-se, portanto, um novo aumento no censo de 2010. É possível que já tenhamos cerca de 20 milhões de pessoas no Brasil que se declarem sem-religião.

“A religião foi perdendo sua plausibilidade, deixando de ser hegemônica. O sagrado que permeava a vida das pessoas, influenciando-as no seu dia-a-dia, vai sendo superado por outras formas racionalistas de encarar a realidade. Para Luckmann, um dos efeitos da secularização pode ser a privatização da religião e suas instituições, que, pela variedade de valores que oferecem ao consumidor, [fazem surgir] o que o autor chama de religião invisível”.3 Por que a igreja brasileira não acorda para esse gigante chamado secularização?

“Jovens buscam a fé sem a igreja”. O que dizer da nova forma de religiosidade crescente entre os jovens brasileiros, os crentes sem religião, que valorizam a fé, mas não se vinculam a uma igreja? Segundo José A. Paz, “a novidade reside precisamente nos crentes sem religião. ‘O espírito buscador do jovem não procura uma instituição religiosa que o enquadre, mas uma doutrina em que ele se encontre’, declarou a antropóloga Regina Novaes para a “IstoÉ”. A concepção de que a fé só poderia ser vivida dentro de uma religião ou de uma igreja passa a ser questionada pela juventude... para o jovem brasileiro, ter fé é mais importante do que seguir uma doutrina. Segundo [a] matéria da “IstoÉ”, ‘os símbolos religiosos antes difundidos na igreja e no âmbito familiar circulam mais por outras áreas de domínio público’, como nos blogs, nas camisetas, nas feiras, na moda. Sem dúvida, um desafio para as igrejas históricas, pentecostais, neopentecostais, na busca de jovens para suas fileiras”.4

“Por que os pastores e as conferências missionárias não se preocupam em estudar a cidade como campo missionário?” Preserva-se uma prática pastoral rural para uma realidade urbana, tanto na metodologia quanto na linguagem, nas estratégias, no estilo de pregação, na forma de exercer a liderança e no cuidado com as pessoas. Muitas conferências missionárias não têm mais um caráter reflexivo, mas lucrativo. Apela-se para os resorts, os hotéis, a comida, e a conferência torna-se um pano de fundo. As igrejas realizam conferências missionárias, mas permanecem no modelo de “missões” (no plural -- transcultural) e não “missão” (no singular -- missional, natureza da igreja). Missões é uma das atividades da igreja missional. Barth afimou: “Uma igreja que conhece sua missão não poderá nem quererá, em nenhuma de suas funções, persistir em ser igreja por amor de si mesma”.5 Já passou da hora de a cidade fazer parte da agenda de nossas reflexões.

As margens do Ipiranga já não são mais plácidas. Os nossos bosques -- dos centros urbanos -- já não têm tanta vida. Os guetos, becos e favelas mostram que não estamos deitados eternamente em berço esplêndido. A justiça não é uma clava forte, antes, se assemelha mais a uma cana fácil de se esmagar. E a igreja, também não foge à luta?

Notas1. Disponível em: www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1. Acesso em 17/05/11.
2. “O Estado de S. Paulo”, 17/05/11.
3. ARAÚJO, Sérgio e SEBATINI, F. “Sobre secularização”. “Caminhos”. Revista do Mestrado em Ciências da Religião da Universidade Católica de Goiás. Goiânia, p. 261-273, 2004, v. 2.
4. Disponível em: www.alcnoticias.net/interior.php?lang=689&codigo=11769. Acesso em 07/01/11.
5. BARTH, K. “Esbozo de dogmática”. Milão: Editorial Sal Terrae, 2000. p. 169-170.

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Jorge Henrique Barro
é diretor da Faculdade Teológica Sul Americana e vice-presidente da Fraternidade Teológica Latino Americana (continental).

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

OS SEM-IPAD

Texto de Luiz Felipe Pondé publicado originalmente na Folha de S.Paulo


Você sabia que agora existe em Londres o movimento dos sem-iPad? Coitadinhos deles. Quebram tudo porque a malvada sociedade do consumo os obriga a desejar iPads… No passado todo mundo era “obrigado” a desejar cavalos, tecidos de seda, especiarias, facas, tambores, ouro, mulheres…

Como ficam as pessoas que desejam, não têm, mas nem por isso saqueiam lojas, mas sim trabalham duro? Seriam estes uns idiotas por saberem que nem tudo que queremos podemos ter e que a vida sempre foi dura?

Esta questão é moral. Dizer que não é moral é não saber o que é moral, ou apenas oportunismo… moral. Resistir ao desejo é um problema de caráter. Um dos pecados do pensamento público hoje é não reconhecer o conceito de caráter.

Logo existirão os “sem-Ferrari”, os “sem-Blackberry”, os “sem-Prada” também? Que tal um “bolsa Blackberry”? Devemos criar um imposto para os “sem-Blackberry”?

Na Inglaterra, dizem, existem famílias que nunca trabalharam vivendo graças ao governo há gerações. É, tem gente que ainda não aprendeu que não existe almoço de graça.

Mas esse fenômeno de querer desculpar todo mundo da responsabilidade moral do que faz não é invenção de quem hoje justifica a violência em Londres clamando por justiça social na distribuição de iPads.

É conhecida a passagem na qual o “homem do subsolo” no livro “Memórias do Subsolo”, de Dostoiévski, abre suas confissões dizendo que é um homem amargo. Em seguida, alude à teoria comum de que ele assim o seria por sofrer do fígado. Logo, a culpa por ele ser amargo seria do fígado.

Ele recusa tal desculpa para sua personalidade insuportável e prefere assumir que é mesmo um homem mau. Eis um homem de caráter, coisa rara hoje em dia.
Agora, todo mundo gosta de “algum fígado” (a sociedade de consumo, o patriarcalismo, a Apple) que justifique suas misérias morais.

O profeta russo percebeu que as ciências preparavam uma série de teorias que tirariam a responsabilidade do homem pelos seus atos.

A moda pegou nos jantares inteligentes e hoje temos vários tipos de “teorias do fígado” para justificar nossas misérias morais.

Uma delas é a teoria de que somos construídos socialmente.

Dito de outra forma: O “sujeito é um constructo social”. Logo, quebro loja em Londres porque fui “construído” para enlouquecer se não tenho um iPad. Tadinho…

Tem gente por aí que tem verdadeiro orgasmo com essa bobagem.

Não resta dúvida de que há algo verdadeiro na ideia de que somos influenciados pelo meio em que vivemos.

Por exemplo, se você nasce numa favela, isso não vai passar “desapercebido” nos seus modos à mesa, no seu comportamento cotidiano e nas suas expectativas e possibilidades na vida.

Mas aí dizer que “o sujeito é um constructo social” é pura picaretagem intelectual. Ninguém consegue ou conseguirá provar isso nunca, mas quem precisa de “provas” quando o que está em jogo são as ciências humanas, que de “ciência” não têm nada.

Esse blábláblá não só exime o sujeito da responsabilidade moral, como abre a porta para todo tipo de “experimento” psicossocial, político ou justificativa moral, que, na realidade, serve pra qualquer um inventar todo tipo de conversa fiada em ciências humanas “práticas”.

Por que tanta gente adora essa teoria? Suponho que, antes de tudo, o alivie de ser você e coloque a “culpa” de você ser você no pai, na mãe, na escola, na vizinha, na sociedade, no consumo, na igreja, no patriarcalismo, no machismo, na cama de casal, no iPad, no diabo a quatro. Menos em você.

Temos aí uma prova de que grande parte das ciências humanas não reconhece o conceito de caráter.

Moral é exatamente você resistir a impulsos que outras pessoas, sem caráter, não resistem. Já leu Aristóteles? Kant?

A “culpa” do que hoje acontece em Londres não é do consumo. Homens sempre quebram coisas de vez em quando e querem coisas sem esforço. As causas podem variar. Hoje em dia, seguramente, uma delas é que muita gente está acostumada a um Estado de bem estar social que os trata como bebês.

A preguiça, sim, é um traço universal do ser humano.


Fonte: Pavablog, em 24/08/2011, http://networkedblogs.com/m3xrZ

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Evangélicos sem espetáculo

Autor: Nicholas D. Kristof, The New York Times - O Estado de S.Paulo
Tradução: ANNA CAPOVILLA
Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,evangelicos-sem-espetaculo,755510,0.htm 08/08/2011


Nesta época de polarizações, poucas palavras provocam tanta aversão nos ambientes liberais quanto "cristão evangélico".

Em parte, isto se explica porque, nos últimos 25 anos, os evangélicos foram associados a personagens rabugentos e fanfarrões. Quando os reverendos Jerry Falwell e Pat Robertson debateram na televisão se os ataques de 11 de Setembro foram uma punição de Deus contra as feministas, os gays e os secularistas, Deus deveria tê-los processado por difamação.

Anteriormente, Falwell defendera que a aids é "o julgamento de Deus sobre a promiscuidade". Esta presunção religiosa permitiu que o vírus da aids se espalhasse, constituindo uma imoralidade maior do que tudo o que poderia acontecer nas saunas gays.

Em parte, por causa desta postura bem-pensante, todo o movimento evangélico frequentemente foi condenado pelos progressistas como reacionário, míope, irracional e até mesmo imoral.

Entretanto, esse menosprezo casual é profundamente injusto, se considerarmos o movimento como um todo. Ele reflete um tipo de intolerância às avessas, às vezes um fanatismo às avessas, dirigido contra dezenas de milhões de pessoas que na realidade se envolveram cada vez mais na luta contra a pobreza e na defesa da justiça global.

                                                                                John Stott

Essa linha compassiva da corrente evangélica foi dotada de bases extremamente sólidas pelo reverendo John Stott, um moderado estudioso inglês que influiu de maneira muito mais importante no cristianismo do que astros da mídia como Robertson ou Falwell. Stott, que morreu há alguns dias aos 90 anos, foi incluído na lista das cem pessoas mais influentes do globo da revista Time. Em termos de estatura, às vezes foi considerado o equivalente do papa entre os evangélicos de todo o mundo.

Stott não pregou acenando com a ameaça das penas do inferno numa rede cristã de televisão. Ele foi um humilde estudioso cujos 50 livros aconselham os cristãos a emular a vida de Jesus - principalmente sua preocupação com os pobres e os oprimidos - e a se opor a mazelas sociais como a opressão racial e a poluição ambiental.

"Os bons samaritanos sempre serão necessários para socorrer os que foram assaltados e roubados; entretanto, seria melhor acabar com os bandoleiros na estrada de Jerusalém a Jericó", escreveu Stott em seu livro A Cruz de Cristo. "Por isso, a filantropia cristã em termos de alívio e ajuda é necessária, mas muito melhor seria um aprimoramento a longo prazo, e nós não podemos fugir da nossa responsabilidade política e da necessidade de participar da transformação das estruturas que inibem este aprimoramento. Os cristãos não podem olhar com tranquilidade as injustiças que arruínam o mundo de Deus e degradam suas criaturas".

Stott deu exemplos das injustiças contra as quais os cristãos precisam lutar: "os traumas da pobreza e do desemprego", "a opressão das mulheres", e na educação, "a negação de iguais oportunidades a todos".

Para muitos evangélicos que sempre se retraíam quando um "televangélico" ganhava as manchetes, Stott era um guru intelectual e uma inspiração. Richard Cizik, presidente da Nova Igreja Evangélica Parceria para o Bem Comum, que trabalhou heroicamente para combater desde o genocídio até a mudança climática, me disse: "Contra a charlatanice e a irracionalidade no nosso movimento, Stott permitiu afirmar que você é "evangélico" e não deve se arrepender".

O reverendo Jim Wallis, diretor de uma organização cristã chamada Sojourners (Os visitantes), que trabalha em prol da justiça social, acrescentou: "John Stott foi o primeiro líder evangélico importante que defendeu o nosso trabalho na Sojourners". Stott, que foi um aluno brilhante em Cambridge, também ressaltou que a fé e o intelecto não precisam ser conflitantes.

Há muitos séculos, o estudo profundo da religião era extraordinariamente exigente e rigoroso; por outro lado, qualquer um podia declarar-se cientista e passar a exercer a alquimia, por exemplo. Hoje, é o contrário. Um título de doutor em química exige uma formação rigorosa, enquanto um pregador pode explicar a Bíblia pela televisão sem dominar o hebraico ou o grego - ou mesmo sem mostrar interesse pelas nuances dos textos originais.

Os que se denominam líderes evangélicos revelam-se hipócritas, transformando Jesus em lucro em lugar de emulá-lo. Alguns parecem inclusive homofóbicos, e muitos que se declaram "a favor da vida" parecem pouco preocupados com a vida humana depois que ela sai do útero. São os pregadores que aparecem nas manchetes e são menosprezados.

Escrevendo sobre a pobreza, as doenças e a opressão, encontrei outros ainda. Os evangélicos estão desproporcionalmente dispostos a doar o dízimo do que ganham a obras de caridade, em geral ligadas à igreja. O mais importante é que se procuramos nas linhas de frente, nos EUA ou no exterior, nas batalhas contra a fome, a malária, as violações nas prisões, a fístula obstétrica, o tráfico de pessoas ou o genocídio, alguns dos mais corajosos que encontramos são cristãos evangélicos (ou católicos conservadores, que a eles se assemelham de muitas maneiras) que vivem verdadeiramente a sua fé.

Não sou particularmente religioso, mas reverencio os que vi arriscando sua vida dessa maneira - e me enoja ver esta fé ridicularizada em coquetéis em Nova York.

Por que tudo isto é importante?

Porque tanto as pessoas religiosas quanto as seculares fazem um trabalho fantástico em questões humanitárias - mas elas frequentemente não trabalham juntas em razão das suspeitas mútuas. Se pudermos superar este "abismo divino", poderemos progredir muito mais no combate às mazelas do mundo.
E esta seria, realmente, uma dádiva divina.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Reafirmações


Estamos vivendo dias em que se faz necessário reafirmarmos nossas posições. No afã de inovarmos, acabamos por esquecer de onde viemos. Na busca do novo menosprezamos o velho. Desta forma, reafirmar também representa relembrar, reorganizar, reposicionar-se aos valores do princípio de nossa caminhada.

Vale ressaltar que esse processo não significa involuir, regredir. Pelo contrário, só podemos avaliar a “qualidade” da evolução a medida que ela condiz com os valores que inicialmente nos nortearam. Exemplo: se na minha caminhada cristã a oração era um valor essencial e na minha caminhada eu fui gradativamente me distanciando dessa prática, então é necessário refazer os passos e reafirmar os primeiros valores. Caso contrário, refaça sua lista de princípios.

Assim faço meu auto-exame; relembrando de onde vim para avaliar melhor para onde estou indo. Nesse sentido, estou pontuando algumas posições pessoais que me auxiliem na caminhada como cristão e como membro de uma comunidade de Cristo.

  1. Reafirmo minha origem pentecostal, assim como reconheço meu distanciamento dessas prática. Nasci na fé em meio as reuniões de busca pelo bastimo com o Espirito Santo. Fui batizado e abençoado com o dom de falar em línguas estranhas. Acredito que os dons espirituais são tão importantes quanto o caráter cristão aprovado. Um não precisa excluir o outro. Contudo, a medida que estudamos e “amadureçemos”, passamos a considerar a experiência sobrenatural como um “conhecimento de nível inferior”. Como desculpa para evitar as “criancices espirituais”, tornamo-nos na prática “pentecostais não-praticantes”, se é que há possibilidade de existir tal condição. Reafirmar o pentecostalismo que um dia vivi significa hoje perder o medo de errar, de agir como menino, e procurar conciliar melhor a teoria e prática.
  2. Se há uma mensagem que permeia a Bíblia, ela está ligada ao arrependimento. Antes mesmo de Jesus, João Batista e os profetas anteriores já afirmavam essa necessidade (Mt 3.12 e 4.17). Todos os nossos esforços, como igreja e como cristão, deveriam estar baseados no ministério da reconciliação definido por Paulo (2Co 5). Reafirmar a mensagem do arrependimento é o princípio da missão, pois para quê evangelizaremos? E não só da missão, como também da própria espiritualidade, já que o arrependimento implica num estar em paz com Deus. Falar de arrependimento é como efeito dominó: exige uma reflexão sobre o que é pecado, graça, amor, justiça e salvação.
  3. Reafirmo a oração como meio eficaz para estreitarmos nossa relação com Deus. Não basta reconciliar-se; é preciso tornar-se íntimo de Deus. Oração é como uma permissão para que haja relacionamento verdadeiro, pois assim como preciso sempre manter a comunicação com minha esposa para que nossa relação cresça, também preciso manter o contato com Deus. E da mesma forma que não apenas falo, mas também escuto o que minha esposa tem a me dizer, também preciso entender que oração inclui o calar-se com reverência, escutando a voz de Deus.
  4. Reafirmo a necessidade de dialogar com o mundo sem abrir mão da cosmovisão bíblica. Como afirmou Stott no título de um de seus livros, devemos “ouvir o Espírito e ouvir o mundo”. Contudo, é ilusório pensarmos que, nesse embate, sempre alcançaremos posições equilibradas. Desse modo, prefiro sempre ouvir o Espírito, por mais que pareça retrogrado e politicamente incorreto. Que padrões deverão nos nortear senão os padrões definidos por Deus?

Continuarei numa próxima.

Poligamia volta ser comum em Israel

Os comentaristas do jornal Yedioth Ahronoth se questionam: “Estamos prestes a testemunhar um novo fenômeno em Israel, nos próximos anos, o de um homem casado com várias mulheres? O fenômeno era comum no povo de Israel nos tempos antigos”. O rei Salomão era casado com 1.000 mulheres, o rei Roboão tinha 78, e o rei Davi tinha “só” 18.

Cerca de mil anos atrás, o rabino Gershom emitiu uma proibição da bigamia, proibindo essa prática entre os judeus asquenazes. Os sefardistas, nos séculos passados, também abandonaram a tradição de ter mais de uma esposa. Os panfletos distribuídos nas sinagogas apareceram no jornal semanal Shabbat B’Shabbato, e incentivam os sefarditas a retomar a prática, citando um documento haláquico (isto é, relativo à aplicação da lei), escrito há vários anos pelo rabino Yosef Ovadia (foto), em que não se exclui o fenômeno da poligamia.


“As cortes que impõem agravantes aos sefarditas nesse campo estão erradas”. Não está claro se o rabino Ovadia apoiaria a poligamia hoje, mas os autores do folheto defendem, com base nessa visão, que, segundo a Halachá, ter mais de uma mulher não seria mais proibido nos círculos sefarditas atuais.

Os panfletos remetem os leitores a um site, o da organização Jewish Home, onde estão publicadas as citações de uma série de autoridades religiosas ao longo dos séculos, quase como se quisessem dizer que a regra que proíbe a poligamia não é mais válida. E o site também oferece testemunhos e histórias de homens e de mulheres com experiências de poligamia.

Outro site defende que os panfletos e toda a campanha foram financiados e patrocinados por um grupo de mulheres religiosas e solteiras, que abandonaram a esperança de encontrar uma alma gêmea. Uma delas, de 39 anos, disse: “Sou uma solteira religiosa e tenho medo de perder a possibilidade de me tornar mãe”. Ela acrescentou que existem outras 27 mulheres como ela, que ficariam felizes em se casar com um homem já casado.

Mas o que é surpreendente é que o fenômeno, quase ao mesmo tempo, faz a sua aparição no campo oposto, isto é, entre os beduínos do Negev. Nos jornais locais, aparecem conselhos para as mulheres com mais de 30 anos, e ainda solteiras, para que levem em consideração a poligamia: “É a solução da Sharia”. Uma vez que a poligamia é ilegal no estado de Israel, as pessoas que deram início à campanha preferem permanecer anônimas e serem conhecidas só como “Comitê do Negev para os direitos das mulheres”.

Embora a poligamia seja ilegal, e qualquer homem que se case com mais de uma mulher corre o risco de ser preso, o fato é que a lei é aplicada muito raramente. Um anúncio publicado no jornal Al Haddat, da cidade de Rahat, de maioria beduína, defende que o objetivo da campanha é ajudar as mulheres com mais de 30 anos e não encontram marido.

A propaganda mostra uma mulher beduína de 34 anos que conta como se sente, dizendo que “o futuro é deprimente”, porque todas as suas amigas já estão casadas e ela não sabe se conseguirá ser mãe. Depois vem a pergunta: “Qual é a solução para 7.514 mulheres do Negev que têm mais de 30 anos e ainda estão solteiras?”, colocada abaixo da imagem da mulher, seguida da resposta: “Poligamia, a solução da Sharia”. O anúncio coloca uma condição importante (prevista, além disso, pela tradição islâmica), ou seja, que a poligamia é permitida se o homem puder tratar cada mulher da mesma maneira. Quem não se sente preparado, que se limite a uma esposa.

Mas o fenômeno, embora ilegal, parece estar crescendo, pelo menos na comunidade beduína. Segundo a Associação para os Direitos Civis em Israel entre os beduínos do Negev, tem havido, nos últimos anos, um crescimento de 30-40% nas uniões poligâmicas. Obviamente, cobertas por grande discrição.

Tradução: Moisés Sbardelotto

Fonte: Pavablog, 08/08/2011, http://networkedblogs.com/lp1s8

sábado, 23 de julho de 2011

Falta de Amor: Uma doença silenciosas


A Hepatite C é uma doença silenciosa. Segundo os médicos, 80% dos pacientes que sofrem dessa enfermidade só a descobrem na fase crônica, quando desenvolvem outras doenças, como a cirrose hepática e o câncer no fígado.

Com as devidas reservas, podemos fazer uma comparação: assim como a hepatite C é uma doença silenciosa que destrói o corpo humano, a falta de amor é a doença silenciosa que destrói o Corpo de Cristo. Pelo menos é isso que nos diz Jesus na carta a Igreja de Éfeso.

Jesus elogia esta Igreja por ser firme na fé e na esperança. Como poucos, eram capazes de identificar os falsos ensinos, assim como conseguiam suportar as perseguições vindas de um mundo perverso e alienante.

Parecia estar tudo bem. Certamente diríamos que esta é uma igreja modelo, que pensa corretamente e tem uma conduta firme.

Contudo, Jesus faz um diagnostico terrível: vocês largaram o amor no meio do caminho e nem perceberam. Estão fazendo o certo, mas pelos motivos errados. São defensores da fé, mas falta amor. Suportam terríveis dores, mas não amam.

É assustador pensar que Igrejas podem crescer sem que o amor seja a causa. Terrível perceber que todos os domingos pessoas se reúnem debaixo de uma fé “bíblica” sem construírem relações pautadas em amor.

Fica um alerta seríssimo: Sua conduta precisa ser reavaliada pelos seus motivos. Qualquer motivo que não seja o amor, descarte-o. Jesus afirma a esta Igreja: volte o caminho, refaça seus passos, procure onde ficou o amor perdido. 

Não custa nada fazer um check-up, ele ajuda a encontrar as doenças silenciosas.

domingo, 3 de julho de 2011

Reformar Templos ou Construir Faróis?


Após ler 2 Reis 22 e 23 (sugiro que leia antes), eu entendo que:

1. Assim como Josias reformou o Templo sem o referencial do Livro da Lei que estava perdido, assim nós procuramos reformar nossas instituições (chame você de Igreja, Comunidade, reunião no lar...) sem entender o que realmente Deus deseja. É possível construir uma casa linda para Deus e abarrota-la de gente e ainda sim a Palavra de Deus continuar perdida para nós.


2. Assim como pessoal foi o encontro de Josias com a vontade de Deus, pessoal também é nossa transformação quando nos colocamos no centro da vontade de Deus. 

3. Então, assim como inútil foi para Josias reunir o povo para "uma nova aliança", inútil será a tentativa de reproduzir em qualquer pessoa um entendimento que é somente seu.

Desta forma, não gaste sua energia reformando templos, mas procure antes saber aquilo que Deus realmente deseja para você. E quando descobrir, não queira incutir a sua “visão” nos outros; antes permita que Deus a faça brotar em cada coração. Se assim for, mesmo na sua ausência o povo seguirá, posto que verdadeiramente estarão na vontade de Deus, e não na sua.

Melhor do que reformar templos é construir faróis!

Que Deus nos ensine.

Jorge Luiz

sexta-feira, 1 de julho de 2011

sábado, 25 de junho de 2011

Cristão: espelho de Cristo


Convido você a ler Atos 11:19-30:













Lendo esse texto me vem algumas questões a mente:

1. Ser Cristão hoje é muito mais uma questão de afirmação do que mesmo reconhecimento. Veja que os discípulos não foram titulados “cristãos”, mas sim reconhecidos pelos de fora. É irônico: aqueles que não conheceram a Cristo conseguiram reconhecer a mesma atitude de Cristo espelhada na vida dos discípulos, e assim resolveram “apelidá-los” de Cristãos. Hoje, apesar de nos autodenominarmos cristãos, o mundo dificilmente percebe algo de Cristo em nossas atitudes. Estranho né?

2. Cristianismo não nasceu da intervenção do Imperador Constantino. Ele deturpou, mas não criou, e na verdade, ele não foi o primeiro a adulterar o movimento cristão. Da mesma forma, a base do cristianismo não vem da filosofia grega, romana, judaica, humanista, marxista, capitalista; ou seja lá qual for. O Cristianismo autêntico é fruto de ações ousadas e pautadas no amor. Os cristãos verdadeiros divergem entre si, mas nenhuma divergência é maior que o amor. Perceba: não é a fé que nos une (no texto os irmãos de Jerusalém creêm de forma diferente dos irmãos gregos), mas sim o amor, a solidariedade e o respeito pelo próximo (pois mesmo “divididos”, os gregos alimentaram os judeus na hora da dificuldade). Para o cristão, o novo deve ser encarado sem tornar-se motivo para guerra.

3. Portanto, abrace o novo! Se a estrutura atual já não atende a voz do Espírito, não pense duas vezes. Contudo, tudo que fizer seja pautado no amor, e não na fé. Hoje fé tem haver com teologia verdadeira, ou com a que melhor se adéqua a “sua verdade”. Amor não tem doutrina, não precisa de teologia, e por isso transpõe todas as barreiras.


Pense nisso

Um grande abraço 

segunda-feira, 20 de junho de 2011

ESTAFA ESPIRITUAL


Não sei se existe tal definição, mas sinto-me “estafado” espiritualmente. Isso mesmo! Assim como quem é acometido de estafa física, encontro-me esgotado. Li em um site que a estafa acarreta  certos males:

A maioria das pessoas com fadiga, exaustão, estafa e esgotamento tem seus níveis de atividade geral bastante prejudicado, apresentam depressão mesmo que em níveis discretos, tem o sono insatisfatório e, devido ao seu estado geral, maior dificuldade em lidar com situações estressantes da vida” (fonte: http://www.vitalidadeintegral.com.br/si/site/0301/p/estafa).

Estou extremamente esgotado de tudo que está acontecendo em minha vida e ao meu redor. Mas por irônia do destino é justamente agora que eu me encontro em um momento “divisor de águas”, decisivo. Por conta dessa fadiga, não tenho a menor condição de resolver nada com urgência, pois preciso antes estar debaixo de muita oração e leitura bíblica.

 É deprimente fazer parte de uma estrutura de poder que difama e maltrata que pensa diferente. Me causa asco aqueles que confundem ataques pessoais com oposição de idéias. Estou cansado dos que não sabem ouvir críticas, assim como dos que não sabem criticar.

Sei que vai soar piegas, mas a decepção com a instituição “igreja” alcançou em mim níveis estratosféricos. Não acredito mais nesse modelo de comunidade da qual nos tornarmos, e não acho que seja saudável gastar tempo e energia tentando manter o insustentável. Nossas liturgias não contribuem para transformar nosso caráter segundo o de Cristo. A desilusão apoderou-se de mim e não me envergonho de assumir, principalmente para os que me conhecem, que me dediquei piamente a um projeto que hoje perdeu o sentido.

Me deprime ver tanta filosofia travestida de evangelho, e isso vale para os liberais, fundamentalista e os que permanecem no meio. Aprendi que quem relativiza pode ser tão absolutista quanto seu opositor. Portanto, “doutores da lei” e “livre pensadores” estão expostos ao mesmo mal: criar uma imagem superestimada de si mesmos, para não chamar de arrogantes. Sinto-me xingado de burro quando alguém diz que eu não entendi certas colocações. Já estou cheio dos discursos de quem acredita ter “reinventado a roda”, assim como daqueles que acreditam deter a receita correta para tudo. Já não suporto as teorias malucas de quem não respeita a história cristã, assim como a idolatria de quem diviniza o passado e as tradições.

Me faz mal ler alguns blogs e assistir alguns vídeos (vazados ou não). Fica patente que no meio de tanta guerra “santa” e intolerância Jesus está bem distante de ser glorificado. Na verdade, a simplicidade do amado galileu está para nós como o tesouro perdido da parábola que precisa ser reencontrado.

Ah Jesus, salva-nos de queimar no meio dessa fogueira de vaidades que se instalou entre nós. Precisamos conhecer ao Senhor abrindo mão de criar heróis e vilões, hereges e paladinos da doutrina santa, entendendo que somente Ele é o único mediador para com Deus. Enquanto ficamos nessa "brincadeira" de "mocinho e bandido", muitos perecem por falta de verdadeiro cuidado e verdadeiro alimento para o espírito.

Minha alma necessita ser desintoxicada de tanto ódio, ressentimento e intolerância. E o remédio é simples, como simples é a palavra de Deus. Sendo assim, se quiserem me ajudar compartilhem comigo algo que Deus falou pela sua palavra, e não me venha com compêndios teológicos ou declarações de fé sem sentido. Tenho certeza que não há nada melhor que o refrigério do Espírito Santo para curar o esgotamento espiritual.

Aos que leem e gostam de mim peço sua oração e seu amor. Aos que não gostam de mim e das minhas opiniões, peço ao menos seu respeito para com minha dor. Dispenso falsa piedade.



Escrevo esse desabafo em meio a uma forte dor de cabeça e depois uma noite mal dormida.

Jorge