quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Por uma Teologia Pop

Essa semana na revista Época (nº 746), a reportagem de capa falava sobre o filósofo suíço Alain de Botton e sua busca por escrever autoajuda com pitadas de filosofia.

O empreendimento, bem interessante por sinal, mostra que o ensino de filósofos das mais variadas épocas e contextos podem ser relevantes para ajudar a solucionar (ou talvez amenizar) os problemas da vida moderna. Temas como dinheiro, sexo, trabalho, era digital, mente sã, mudança do mundo, dentre outros, permeiam o trabalho de Alain, que objetiva trazer reflexões leves e pertinentes, contribuindo para mudanças significativas no dia a dia do homem contemporâneo.

A ideia é facilitar o acesso a sabedoria da filosofia e converte-la em dicas aplicáveis a vida prática das pessoas não "iniciadas" na erudição filosófica.

Ao ler a reportagem fiquei pensando em como seria bom que os pensadores e debatedores de "abobrinhas teológicas", ao invés de discutirem se Deus pode ou não pode alguma coisa, parassem de perder tempo e fizessem o mesmo que o filoósofo suíço, trazendo a "chama de Cristo" para o mundo dos meros mortais. Ou seja, que tal traduzir a teologia e a Bíblia para o contexto palpável do homem comum?

Porque não falar sobre a vida cristã e o dinheiro, o sexo, o trabalho e o descanso, além de outros temas, mas não de forma condenatória ou legalista; mas de uma maneira leve, com conselhos práticos e acima de tudo plausíveis?

Uma das maiores crises que temos hoje é a do púlpito, que está repleto de "falação" erudita, filosofia de "viajar na maionese" e divagações que não contribuem para vida prática de ninguém. Falta objetividade na pregação, o que reflete numa vida cristã vazia.

Outro problema é que muitos cristãos que ainda leem a Bíblia não estão conseguindo transpor a sabedoria ali inserida para a vida real. Isso é uma crise de ensino, mas não pela falta dele, e sim pela ausência de um ensino bíblico que seja vivencial. Ensinam-se muitos conceitos que estão desconectados de qualquer aplicabilidade real.

Alain de Botton, o filósofo pop e ateu, ensina a nós cristãos que o evangelho tem sido desconfigurado em nossos arraiais, pois não há maior fonte de sabedoria de vida do que a palavra de Deus, e se dela não conseguimos extrair o básico para termos uma vida mais leve e plena, é porque ainda não compreendemos o que é transformar a complexidade de um escrito milenar em verdades possíveis para o homem do século XXI.

Que Deus levante profetas que ensinem verdadeiramente o povo a ter vida em abundancia, e que este povo aprenda a encontrar na palavra de Deus fonte de orientação e satisfação para suas vidas.

Que tal propormos uma teologia acessivel? Porque não uma Teologia Pop?

Jorge Luiz.


terça-feira, 28 de agosto de 2012

Quem você convida para sua mesa?

Então Jesus disse ao que o tinha convidado: "Quando você der um banquete ou jantar, não convide seus amigos, irmãos ou parentes, nem seus vizinhos ricos; se o fizer, eles poderão também, por sua vez, convidá-lo, e assim você será recompensado.

Mas, quando der um banquete, convide os pobres, os aleijados, os mancos, e os cegos.
Feliz será você, porque estes não têm como retribuir. A sua recompensa virá na ressurreição dos justos".
Lucas 14:12-14


Pense comigo: Você oferece um jantar com o melhor que tem. Ao final chega um dos convidados e faz uma crítica dessas. O que você sentiria? 

Eu não ofereci nenhum jantar para Jesus, mas a "pancada" deste comentário chega a doer em mim. Como todas as demais afirmações de Jesus, esta consegue incomodar a qualquer um que a lê.

E porque incomoda? Ora, apenas pelo simples fato de que Jesus desmascara as motivações por trás de tudo que fazemos. Nos evangelhos o que você faz não é mais importante do que o motivo pelo qual você faz.

A questão que Jesus destaca é muito maior do que abrir a porta da sua casa para os marginalizados. Ele está a nos desafiar a cultivar um tipo de sentimento positivo por quem não tem nada a nos oferecer. 

Sentimento gratuito não é uma postura natural da nossa humanidade caída. Somos quase que instintivamente movidos a responder positivamente somente àqueles que nos correspondem. É triste constatar que muito do que fazemos já está imbuído, mesmo que inconscientemente, da expectativa do retorno vantajoso. O fariseu que convidou Jesus simplesmente visava uma retribuição de seus colegas que tinham vontade de conhecer o rabino nazareno. No mínimo um próximo jantar na casa de outro aristocrata.

Aprender a agir favoravelmente sem esperar retorno é complicado. Amar gratuitamente é um desafio gigantesco. Mas quem disse que ser cristão é fácil?

Jorge Luiz


sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Para que eu seja leve

Para que eu seja leve, preciso me enxergar, por mais difícil que possa ser.
Porque se enxergar é se avaliar
Mas só olha para si mesmo quem antes aprendeu a se humilhar
E do humilde vem a capacidade de se perdoar.

Para que eu seja leve, preciso me despojar, por mais difícil que possa ser. 
Porque despojar é abandonar.
E abandonar exige renunciar.
Pois quem já renunciou um dia aprendeu a perdoar.

Para que eu seja leve, preciso me resignificar, por mais difícil que possa ser.
Porque se resignificar é se refazer mesmo sem merecer
E para se refazer é necessário acreditar e avançar
Mas só segue em frente quem um dia entendeu
Que para ser leve eu preciso mesmo é me perdoar.


Jorge Luiz

(Não sou poeta e tenho péssima rima. Esse texto é apenas devaneios de quem busca a leveza do ser).


terça-feira, 7 de agosto de 2012

Entre acolher e cuidar

Entre acolher e cuidar existem diferenças. Contudo poucos percebem.
Quem acolhe aproxima o distante com um forte abraço e um olhar terno.
Quem acolhe evita um sorriso amarelo, pois deseja ser sincero.

Mas nem sempre quem acolhe cuida.
Porque cuidar é mais que abraçar, é também se importar.
É não somente saber seu nome, e sim transpor os montes para te encontrar. 

Portanto, quem acolhe apenas pergunta como você está. Já quem cuida lhe percebe além do que aparência deixa mostrar.
Quem acolhe é simpático e expansivo, quem cuida é amoroso e compreensivo.
E quem acolhe limpa as feridas, já quem cuida pode curá-las.


Jorge Luiz

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Conselho do Velho Paulo ao Jovem Timóteo (2Tm)

Procurei ler a 2ª Epístola de Paulo a Timóteo não como uma lista de orientações de um pastor experimentado à um inexperiente, mas como conselhos valiosos para um jovem que deseja servir a Deus com integridade.

Independente do chamado ministerial, em todos nós há uma vocação para seguir e se inspirar em Cristo, o nosso único Senhor. Os conselhos de Paulo a Timóteo se aplicam a todos os seguidores de Cristo.

Dentre as orientações, destaco três que me chamaram a atenção:

Aquilo que fizer, faça por inteiro (2Tm 2.4-7). Nossa época é marcada por jovens que querem "abraçar o mundo" de uma só vez. São tantas atividades que acabamos vivendo com superficialidade. Coração dividido é o caminho para a superficialidade. 

Quer uma vida com mais sentido e profundidade? Pois faça tudo por inteiro. Onde estiver, que não seja pela metade. Aprenda o sentido da palavra comprometimento. Uma vida cristã sem compromisso é apenas perda de tempo. Paulo nos convida ao comprometimento com o evangelho apesar das conseqüências negativas. 

Evite debates infrutíferos e conversas tolas (vs 14-16). No contexto de Paulo para Timóteo, as conversas tolas estão associadas aos falsos ensinos sobre a volta de Cristo. Contudo, hoje há também outras conversas tolas e potencialmente nocivas. Basta dar uma breve olhada nas redes sociais para assistir o festival de "besteirol" e futilidades que cercam os assuntos. Conversas vazias tornam nossas vidas e mentes vazias. Caminhe com sabedoria e mantenha-se em silêncio quando não houver o que falar de bom e louvável. Alimente-se de bom conteúdo, leia bons livros, devore a Bíblia, converse com pessoas que edifique sua vida e sempre procure pensar de que forma você pode edificar e abençoar os outros através de sua fala.

Prefira sempre ensinar à debater. Em um debate as idéias somente se confrontam sem nenhum resultado positivo. Ensinar e aprender já reflete uma relação harmônica, pois quem ensina não quer confrontar, mas com mansidão procura compartilhar, e quem ouve humildemente se deixa ser tocado pelo ensino.

Fé exige convicção (2Tm 3.14-17). É estranho dizer isso, já que a fé não possui amplos dados científicos e empíricos. A fé possui uma lógica que não está atrelada aos princípios da observação científica. Contudo, Paulo afirma que a fé existe no ambiente da convicção, e não da dúvida. Ele chama o jovem Timóteo a reexaminar os fundamentos da fé, que aprendeu com sua familia, mas não para negá-los, mas para aperfeiçoá-los. Quais são os pilares da fé em Cristo que exigem total convicção? Como você interpreta as escrituras a partir da fé em Cristo? Dúvidas e questionamentos só são válidos se, centrado em Cristo, servirem como ferramentas para aperfeiçoar e fortalecer os pilares.

Em suma: Integridade, sabedoria e convicção. São estes os três principais caminho que o velho Paulo ensina ao Jovem Timóteo e a todos nós.


domingo, 29 de julho de 2012

O que a humanidade quer e o que ela precisa ouvir

Hoje li uma reportagem na revista Época sobre um guru nascido no Brasil chamado Prem Baba. Não o conhecia, mas pelo texto da revista ele é famoso e atrai milhares de seguidores (famosos ou anônimos) entre aqueles que buscam os gurus da Índia e suas palestras. A reportagem fala sobre sua caminha de espiritual até chegar ao status de guru espiritual no hinduísmo. 

O que me chamou a atenção na reportagem não foi a história dele, mas uma fala da repórter Aline Ribeiro me chamou a atenção. Transcreverei na integra o texto:

"Não se trata de milagre (os feitos e o ensino do guru). Prem Baba fala o que a humanidade quer ouvir (grifo meu). Acolhe um mundo carente de conforto espiritual. Foge dos padrões das religiões cristãs, como o catolicismo ou protestantismo, segundo as quais Deus observa de binóculo qualquer tropeção aqui embaixo (grifo meu). O pai do amor (significado de Prem Baba) não faz sermão. Não julga. Nunca franze a sobrancelha. Parece sorrir com os olhos ininterruptamente. Tem a voz tão aveludada que é impossível não baixar o tom quando se conversa com ele. Sua missão, diz, é esbanjar o amor desinteressado".

Tirando os exageros e a falta de conhecimento acerca dos cristãos e do seu Deus, esse trecho me conduz a várias reflexões. Como a própria repórter diz, o sucesso do guru está em falar o que a humanidade quer ouvir. E o que a humanidade quer ouvir? Ora, nada mais senão uma mensagem de "amor desinteressado". Mas o que seria o tal "amor desinteressado"? Para entendê-lo, é preciso ver como a repórter descreve o Cristianismo: uma religião julgadora que cultua um Deus neurótico que existe apenas para acusar e castigar as pessoas por seus pecados.

Verdadeiramente a humanidade não quer ouvir falar sobre seus pecados. Muitos buscam uma espiritualidade que transforme o homem em deus. Quem não quer ouvir que é o máximo? Quem não quer alguém que ensine a receita para sua própria salvação? A humanidade busca uma espiritualidade que massageie seu ego e que levante sua autoestima. E quando for preciso falar sobre erros? Que seja bem sutil e genérico, sem dar "nome aos bois"

A diferença do Evangelho de Jesus Cristo é que ele não fala o que a humanidade quer ouvir, mas o que ela precisa ouvir. Reconheço que não é uma missão agradável ou mesmo fácil. Reconheço também que a maioria dos líderes cristãos realizaram um desserviço ao pregar um Deus tão severo que alimentou descrições simplistas e preconceituosas como a da repórter de Época. 

Contudo, é necessário continuar pregando sobre o pecado, e ainda mais sobre a graça de Deus. Falar aquilo que os homens precisam ouvir não significa ser desagradável, mas sim verdadeiros. Anunciar o que Jesus fez pela humanidade revelará que Deus é o verdadeiro Pai de Amor (e não Pream Baba). Mostraremos às pessoas que Deus não vive atrás de nossos pecados, pois eles já foram perdoados na cruz do Calvário. Se há algo que Ele procura, isso se chama Relacionamento. 

A questão é que relacionamento com Deus exige que sejamos francos e humildes. Exige reconhecer quem na verdade somos, com nossas falhas e capacidades. O amor de Deus realmente não é desinteressado; mas ao contrário do que pensa a repórter e muitos outros, ele não é interessado em nossa perfeição moral ou em nossos rituais religiosos, mas em nossa sinceridade e amor.

No dia em que a humanidade reconhecer o verdadeiro Pai de Amor, perceberá que ele não é um desocupado bisbilhoteiro, que com binóculos na mão fica a espiar a vida da pessoas. Mais do que espiar, ele deseja participar de nossas vidas como um verdadeiro guia e amigo.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Fé para além do milagre (Mateus 11)

Ontem experimentei um daqueles raros momentos em que Deus respondeu minhas indagações. Estava a refletir sobre a contradição da fé cristã no Brasil após a divulgação dos últimos resultados do censo realizado em 2010. Cresce o número de cristãos, porém, são escassos os sinais do Reino de Deus na sociedade. Como explicar isso? Porque a mensagem do Evangelho não impacta as estruturas decadentes de nosso país? Porque o aumento do número de religiosos não implica em mais discipulos de Cristo?

Sei que você que está lendo esse texto deve possui suas teorias quem respondem essas minhas "tolas" perguntas. Eu também tenho as minhas. Contudo, ontem durante a leitura de Mateus 11, senti como se Deus estivesse me ajudando a discernir essa situação. Para compreensão da minha breve reflexão, sugiro a leitura do texto bíblico.  

Este capítulo trata de João Batista e Jesus, e seus papeis na sociedade judaica do séc. I. João Batista queria saber se Jesus era o tão aguardado Messias que ele mesmo profetizou em seus ensinos à margem do Jordão. Jesus não responde com um simples "sim", mas convida João e os seus ouvintes a perceberem que suas ações já mostravam quem ele realmente era. Para Jesus, o que importa não é afirmar-se como Messias, mas viver e agir como o Messias. O mesmo vale para nós. Não basta dizer que é cristão, seus atos precisam estar alinhados com sua fala.

As dúvidas de João e seus contemporâneos quanto a Jesus nasceram dos mitos religiosos acerca do agir de Deus. Expectativas erradas cegam nosso entendimento para a percepção do que Deus realmente está fazendo.

Só assim é possivel entender as palavras de condenação de Jesus contra as cidade de Corazim, Betsaida e Carfanaum e todo o contexto do capítulo onze. Pois apesar das curas, das libertações de demônios e dos muitos outros sinais, não houve fé para além do milagre. Desconfio que esse é o mesmo mal do nosso cristianismo tupiniquim.

Não falo de outro tipo de fé, mas de um aprofundamento da fé que já existe. Jesus lamenta que mesmo com todos os sinais miraculosos e com o ensino do evangelho feito publicamente, não houve uma fé que transformasse o coração daquele povo. Existem um nivel de fé que pode curar as doenças do corpo, mas somente uma fé mais profunda pode curar as doenças da alma e do caráter.

O que isso tem haver com as minhas perguntas iniciais? Tudo haver! A fé cristã no Brasil cresce movida pela expectativa do milagre e da manipulação do divino, e no geral não passa disso. Tal constatação já extrapola os arraiais dos neopentecostais. Nosso país vive um cristianismo adoecido porque a fé do nosso povo ainda não aprofundou-se o bastante para transformar o caráter a tal ponto de nos tornarmos discípulos do Reino. Somos crentes ou católicos, mas dificilmente discípulos de Cristo.

Só que há muitos que "se acham" discípulos de Cristo, e isso porque alimentam expectativas erradas sobre Jesus. Convicções de fé são importantes e necessárias, mas se não forem constantemente revistas e atualizadas serão como véu que impede uma visão plena de Deus e de suas ações. Você já parou para pensar que seus conceitos de fé podem estar lhe impedindo de enxergar a Deus com mais profundidade?

Jesus nos ensina que a visão do Messias e do Reino de Deus está disponível não aos sabichões, mas aos simples. Estes não estão impedidos de reaprender e reavaliar e são capazes de discernir se as ações são coerentes com o discurso. Estes já não se sentem cansados e sobrecarregados com toda essa incoerência, mas vivem uma vida leve porque simplesmente decidiram aprender de Cristo com a mente aberta.

Que estes poucos possam crescer e invadir nossa religiosidade cristã, transformando-a em algo mais coerente com tudo aquilo que Jesus fez e ensinou. Esta é minha oração.


Jorge Luiz