Para quem é
evangélico há mais de dez anos sabe que o tema “batalha espiritual” estava
entre os mais comentados e estudados. Se houvesse twitter, facilmente seria um trending topic entre os temas
religiosos. Seminários, retiros, vídeos, livros e apostilas sobre esse assunto
eram vastos. Até mesmo grandes nomes entre os pastores evangélicos chegaram a
escrever livros sobre essa temática[1].
Contudo, hoje
é um assunto praticamente marginalizado. Quem ousa falar em batalha espiritual
é considerado fundamentalista, ignorante, medievalista... Em suma, um completo
“fora de moda”. Os pregadores do evangelho “atualizado” e pós-moderno afirmam
que Satanás, demônios, possessão e opressão espiritual são conceitos de uma
cosmovisão mitológica que isenta o homem da culpabilidade de seus próprios atos
de maldade. Ou seja, é o mesmo que acreditar em Saci-Pererê e Mula-sem-cabeça,
afirmando que quem faz a “traquinagem” é o saci, e não eu.
Para estes pseudointelectuais da religião, o mal é apenas ausência de Deus e a maldade são as ações humanas daqueles que estão longe do propósito
divino. Abandonar a ideia de que há um ser espiritual maligno que age sobre a
humanidade é algo libertador, pois faz com que sejamos honestos com nossos
defeitos e falhas.
Mesmo sabendo
que serei tachado de fundamentalista e infantil, não me esquivo de dizer que
não acredito nesse evangelho intelectual. Discordo dessas construções
filosóficas e acredito piamente que tal postura apenas contribui para que Satanás e seus servos possam agir de forma
acobertada e tranquila.
Uma das
primeiras falácias da lógica dos "novos" eruditos evangélicos está na afirmação de que a
crença na existência do diabo isenta o homem de ser responsabilizado pelos seus
atos. Verdadeiramente uma coisa não anula a outra. A Bíblia revela que Satanás
sugere e busca convencer homem de que viver contra a vontade de Deus é o melhor
caminho. Porém, transformar essa sugestão em prática de vida é uma escolha da
vontade humana. Foi isso que aconteceu no Éden, e que ainda ocorre até hoje.
Quem torna o mal
uma realidade no mundo é o homem, e Satanás contribui para esse processo. Guardando
as devidas proporções, podemos comparar como um crime em que há um autor
intelectual e o criminoso de fato. Perante a lei, ambos são culpados, tanto
aquele que planejou como o que executou o crime.
Perdoem-me o
possível literalismo, mas prefiro permanecer com a Bíblia que faz uma afirmação
enfática: O mundo jaz no Maligno! (1Jo 5.19). A intenção do autor é afirmar que
os sistemas humanos de governos opressores são produtos da ação do mal
sobrenatural sobre a terra. Negar a realidade de que Satanás continua a agir
sobre os caminhos da humanidade é a receita certa para produzirmos um evangelho
adulterado, imoral e que apenas servirá aos interesses do príncipe das trevas.
Paulo também
afirma que nossa luta não é contra homens, mas contra a influência dos poderes dos
espíritos do mal (Ef 6.12). Ao citar a metáfora da armadura de Deus, ele está
falando sobre como o discípulo de Jesus pode estar capacitado para lutar contra
todas as investidas do inimigo.
Continuarei
esse texto procurando entender como a metáfora da armadura de Deus nos ensina sobre
a verdadeira Batalha Espiritual que um discípulo deve travar contra os poderes
do diabo. Por hora, me contento em reafirmar que o inimigo existe sim. De
natureza espiritual, ronda-nos como um leão feroz, tramando para nos conduzir a
posturas e atitudes destrutivas, que nos desviam da verdadeira fé e caminho (1Pe
5.8).
Apesar de
agir contra os propósitos de Deus, sua existência não implica em livrar o homem
da culpa de seus atos. Assim como o Espirito Santo de Deus é a força que nos inspira
a viver uma vida de acordo com a vontade de Deus, Satanás e seus servos agem
como um poder sobrenatural que insufla o homem a permanecer escravo de suas paixões
egoístas. O campo de batalha está instalado nas nossas emoções, motivações e
decisões. Mas cabe a nós a ação final.
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