quinta-feira, 24 de maio de 2012

A Estrada

Somente agora consegui assistir o filme A Estrada, baseado no livro homônimo de Cormac McCarthy, e preciso registrar que o filme é maravilhoso.

O filme conta a história de um pai que vaga com seu filho em um mundo pós apocalíptico. Não há muitos sobreviventes, e destes, alguns andam em bandos; praticando o canibalismo comum em tempos desesperadores.

Vagando em busca da sobrevivência, a procura de restos de comida e roupas, o pai tenta ensinar ao filho sobre os valores que nos tornam humanos e nos distinguem daqueles que agem como animais. Essa é a principal reflexão que a história me traz: Como manter "o fogo interior acesso" diante de um cenário tão hostil?Como preservar a humanidade em meio a um mundo caótico e bestializado? 

Durante o filme o pai dá vários sinais de que já não consegue distinguir entre os caras bons e os maus. Ele passa a considerar qualquer um que cruze o caminho deles como um inimigo em potencial. Contudo, a doença e corpo magro do pai já indicam que ele está prestes a morrer, e que não conseguirá cumprir a promessa de chegar as praias do sul com seu filho, onde ele acredita ainda haver homens bons.

Mesmo agonizante, o pai não orienta o filho a se matar, como já havia feito em outros momentos do filme. Ele acredita na vida e crê que ensinou ao filho o necessário para que ele sobreviva. Consegue manter a esperança acessa mesmo diante de um cenário tão sombrio.

Só que o pai estava enganado em um ponto: não havia pessoas boas apenas no sul. Após sua morte, uma família sobrevivente, que seguia-os a distância, resolveu cuidar do menino agora órfão de pai e mãe. Mesmo ensinando seu filho sobre os valores humanos, ele já não conseguia perceber humanidade ao seu redor, e seu isolamento causou dores ao filho e até mesmo sua morte.

Ainda não vivemos num mundo como o que foi descrito no filme, mas de semelhante modo presenciamos dias em que temos dificuldades de distinguir entre humanos e animais. Num mundo recheado de redes sociais, vivemos cada vez mais isolados porque tememos o próximo. Mas como acreditar na vida se não enxergarmos que ao nosso lado ainda caminham pessoas de valor? Como ensinar um filho a ser bom sozinho? Se somos bons ou maus, isso sempre será em relação a alguém. Como ensinou o filósofo Martin Buber, não existe o eu sem o outro.

Como manter o fogo interior acesso? Segundo o filme, a receita é conhecer os valores humanos, preservar estes valores e exercê-los em relação ao outro, buscando enxergar humanidade além de nós mesmos. 

Ótimo filme, recomendo!

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