segunda-feira, 16 de março de 2009

DE SAUL A DAVI – A TRANSIÇÃO ENTRE O MONARCA DOS HOMENS E O GOVERNANTE DE DEUS - PARTE II


Capítulos 13 à 15 – Saul é rejeitado por Iahweh

Saul não teve paz em todos os anos que governou. Israel permaneceu em constante estado de guerra durante o seu reinado, e nas guerras Saul revelou suas falhas perante Deus e o povo de forma mais intensa.

Provavelmente o êxtase profético que tomou conta de Saul fez com que surgisse um rei presunçoso diante de suas prerrogativas. Saul estava em guerra com os filisteus, e como não era bom estrategista, foi encurralado pelo exército filisteu nas montanhas de Bet-Áven. Ele precisava da presença de Samuel, como sacerdote que poderia oferecer holocaustos e assim alcançar o favor de Deus naquela batalha.

Porém, Samuel não chegou ao prazo combinado e muitos do exército de Saul, tão covardes quanto o próprio rei, fugiram. Saul, se sentido ameaçado, e movido pelo sentimento de manter sua autoridade como rei, resolve oferecer o holocausto, exercendo prerrogativas unicamente sacerdotais.

Vale destacar que o pecado de Saul não foi oferecer o holocausto. O que estava em jogo não era o ritual, mas os sentimentos que moveram Saul. O ritual serviu não para buscar o favor de Iahweh, mas para que Saul pudesse continuar sendo o “queridinho” do povo, mantendo o seu reinado. Saul tentou evitar qualquer fragmentação da sua popularidade como rei (13:7-9).

Caso essa jogada de Saul desse certo, ele poderia também acumular para sim as funções sacerdotais e proféticas, que haviam sido devidamente separadas por Samuel na constituição monárquica criada por ele.

Saul pecou por presunção, hipocrisia e falta de fé na intervenção divina. Saul não sacrificou porque estava ansioso por lutar, já que no capitulo 14:2 diz que ele estava sentado debaixo de uma romãzeira, provavelmente lamentando a sua falha e sua derrota iminente. Ao mostrar Jônatas como aquele que deu ínicio a vitória milagrosa sobre os filisteus, o autor revela que a misericórdia de Iahweh atentou para a fé do príncipe, e não para a covardia e incredulidade do rei.

Outro destaque dado aqui seria acerca do sacerdote que acompanhava Saul nas batalhas. Aías era descendente de Eli, sacerdote o qual Iahweh rejeitou e destruiu o santuário de Siló (14:3). Tal união mostra que Saul estava se afastando de Deus, pois ao substituir Aías por Samuel, ele estava querendo preservar seu reinado da influência do antigo juiz, o que resulta no distanciamento do próprio Iahweh, que estava com Samuel.

Jônatas foi quem verdadeiramente realizou a vitória sobre os filisteus com seu ato corajoso (14:1-23). O restante dos filisteus que sobreviveram fugiram, mas a batalha deveria ter terminado nesse exato momento. Porém Saul estende desnecessariamente o combate, explorando a força dos seus soldados até o limite.

Para acrescentar à sua tolice, o rei impõe um jejum absurdo para o momento e para as condições que os soldados estavam; numa tentativa desesperada de “manter” o favor de Deus na batalha. Jônatas, exausto, quebra a imposição do pai por ignorância, e come mel para repor suas forças. Logo após, o restante do exército, em situação precária, come até mesmo carne com sangue, pecando contra Deus devido à imprudência do rei. Porém, o povo não permitiu que a irresponsabilidade do rei gerasse a morte de Jônatas, que era querido para o exército, pois o povo compreendeu que foi pela misericórdia de Deus sobre a vida de Jônatas, e não por causa de Saul, que Israel já tinha obtido vitória.

Saul então retorna do campo de batalha. Israel retorna vitorioso, mas seu rei vem derrotado e rejeitado perante Deus e o próprio povo.

O capítulo 15 ainda reserva outra derrota para o rei Saul. O rei estava com sua reputação manchada perante o povo e seu próprio exército. A última coisa que ele desejava era gerar novos atritos com seus liderados. Para ganhar a aceitação do povo, Saul permite que os seus soldados tomem despojos dos amalequitas, pecando contra a lei do anátema declarada por Deus (15:3).

Saul poupa o rei Agag e o povo recolhe o melhor dos despojos proibidos para poder exibir sua vitória perante o povo e assim “ganhar pontos” diante do povo israelita. Os despojos foram oferecidos como holocausto, mas não era essa a vontade de Deus. Saul foi contra a vontade de Deus em busca de manter seu reinado a custa de agradar os homens. Saul foi arrogante e presunçoso, desperdiçando a chance que Deus havia lhe dado de poder restaurar seu reino de forma correta.

Em resumo, as falhas que custaram o reino de Saul foram:

· Complexo de inferioridade;

· Arrogância;

· Presunção;

· Imprudência;

· Covardia;

· Personalidade fraca, pois precisava da afirmação do povo para manter seu reinado, trocando assim a vontade de Deus pelos desejos humanos.

Capitulo 16 – Surge um menor que Saul: Davi

Samuel agora precisa levantar um novo rei para seu povo, pois Saul foi rejeitado por Deus. O maior medo de Saul era perder o reinado e a nova vida que havia recebido da parte de Deus. Era terrível para ele pensar que outro poderia ser ungido rei em seu lugar.

Sendo assim, Samuel agora sente-se vigiado por Saul para que não possa levantar outro rei para substituí-lo. Ele precisa criar uma situação (o sacrifício), para poder ir a casa de Jessé, o belemita (16:2).

Ao ver Eliab, o primogênito de Jessé, Samuel se anima, e pensa: “este deve ser o novo rei, pois é tão belo e tão alto como Saul, tem postura de rei!” Porém, Samuel, assim como os demais israelitas, continuavam a perceber aquilo que era externo. Deus mostra que a grande falha de Saul era justamente seu vazio interior, sua incompatibilidade entre o que demonstrava por fora e o que realmente era por dentro. Deus diz: “... Não se trata daquilo que vêem os homens, pois eles vêem apenas com os olhos, mas Iahweh vê o coração”.

Deus agora estava disposto a escolher um rei que não fosse exatamente aquilo que os homens desejassem, mas o tipo de homem que Ele compreende ser o melhor para aquela tarefa.

Sendo assim ele escolheu o pequeno Davi. Jessé o chama de “o menor”, mas é justamente esse; que não se compara a Saul externamente, o escolhido de Deus. Desde Issac que Iahweh, por misericórdia, levanta os pequenos para realizarem grandes obras, para que se tornem mais visível os feitos de Iahweh através dos homens. Os menores apenas são demonstrações visíveis de que sem a dependência de Deus não se pode nada, e é justamente essa dependência que Saul rejeitou.

Davi sabia que era menor do que seus irmãos, o menor de sua família, e perante Saul então ele sempre se comportou como menor, porém, ele não tinha complexo de inferioridade. Diferente do gigante Saul, Davi sabia ser humilde sem ser inferiorizado, e o Espírito de Iahweh o capacita para que sua humildade não se torne sinônimo de covardia. Ele é menor, mas não é pior que ninguém.

Ele é humilde o bastante para que, mesmo ungido como rei, ele continue possa servir a Saul como seu senhor, mas essa humildade não lhe torna covarde perante os gritos de afronta do gigante Golias.

Davi é ungido rei justamente na época mais decadente de Saul. Ele passa ser atormentado por maus espíritos “vindos da parte de Deus”. A despeito da origem desse mal, tudo indica que Saul estava sendo vitima de depressão e transtornos psicológicos terríveis. Saul estava embriagado pelo próprio veneno do poder, e a loucura que atingiu sempre muitos imperadores da Antigüidade, parece agora ter batido a porta do rei insensato.


Continua...


Jorge Luiz

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