sábado, 4 de junho de 2011

PENSAR FORA DA CAIXA?


Se eu fosse escolher uma das frases que eu mais escutei durante o período do seminário, certamente seria: - Precisamos aprender a pensar fora da caixa!

Não apenas ouvi muito isso, como também preguei. Agora como professor de teologia, me pego muitas vezes provocando meus alunos a ousarem “pensar fora da caixa”. Noto pelos olhares, pelas caretas de reprovação e por outras reações, que aquilo que está sendo ensinado em sala de alguma forma está conduzindo as pessoas a uma nova percepção.

Mas de uns tempos pra cá tenho me questionado sobre essa “verdade”. Será possível mesmo pensarmos fora da caixa? Cheguei a um consenso comigo mesmo: Não! Não é possível pensar fora da caixa. Vou tentar explicar:

Se observarmos bem, muitos daqueles que passaram a pensar fora da caixa na verdade caíram dentro de outras caixas, e isso vale pra mim também. Podem ser maiores, com horizontes mais amplos, mas ainda sim são caixas. Sempre a porta da saída representa também a entrada em um novo esquema.

É isso mesmo que eu quero dizer: Quando nos achamos saindo de uma caixa na verdade estamos entrando em outra. Vejo tantos “ex-fundamentalistas” que abandonaram certos conceitos, mas acabaram abraçando outros igualmente limitantes. Tanta gente que antes seguiu as intransigências de um Deus legalista e vingativo e hoje defendem que Deus é somente amor, sendo que até mesmo o amor (por mais excelso que seja) pode ser um conceito limitante. Gente que um dia orou por um milagre e que hoje não mais acredita; que confiava no cuidado de Deus e que hoje prega que Ele de longe apenas assiste nossas livres decisões. A grande maioria não percebe que apenas trocou de caixa.

Herdamos da lógica grega uma séria deficiência a qual nos limita pensar apenas dentro de sistemas fechados. Não há “mente aberta” que não esteja encaixotada. Somos seres de raciocínio conceitual. E naturalmente nos cansamos de viver dentro da mesma caixa por muito tempo. Então, munidos de um sentimento clássico de quem “reinventou a roda”, passamos denegrir tudo que um dia defendemos por valores que hoje consideramos mais elevados. E não vai demorar muito para começaremos a achar que novamente precisamos mudar. A alma fica viciada por uma busca incansável pelo próximo “eureka” intelectual, presa em um ciclo constante.

Descobri que em todas as caixas habitam arrogância e superioridade. Seja conservadores, liberais ou mesmo hereges, quando estão “pensando fora da caixa” passam a defender seus novos conceitos sem se preocupar em desqualificar as antigas caixas. Esse processo é muitas vezes chamado de "desconstrução". Vale lembrar que nesse processo ficam muitos “pequenos” vagando perdidos, sem referências, e acabam caindo em caixas ainda mais limitadas do que antes.

Portanto precisamos de humildade e respeito, qualidades que não caminham com a arrogância. Prudência e bom senso cabem em todas as caixas. E por fim, aceitemos o Mistério com profunda reverência.

Escrevo isso com profundo respeito a todos os encaixotados, incluindo eu mesmo.

Abraços


Ps: Desculpe o excesso de aspas, mas elas servem para questionarmos esses termos, que em si mesmo já são caixas.

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