quinta-feira, 2 de abril de 2009

ESPERANÇA E INSATISFAÇÃO

Na década de 80 os Titãs lançaram uma música chamada “Comida”, onde os mesmo falavam que as pessoas estão desejosas de algo além da comida. A música era uma crítica a política assistencialista, das esmolas do governo para a sobrevivência dos miseráveis.

Mas a música não fala só de política. Na verdade ela demonstra uma qualidade inerente ao ser humano de buscar sempre a transcendência de sua condição animal. Minha vida precisa ser mais do que o alimento, ou dinheiro, mais do que a busca pela sobrevivência.

O ser humano é sempre um insatisfeito, e isso é ótimo, porque a insatisfação gera possibilidades de superação das condições atuais que nos encontramos. A insatisfação é um poder do espírito humano que o faz transcender sempre. Eu não sou o que sou, mas sou o que deveria ser.

A esperança que não anda de mãos dadas com a insatisfação será sempre comodismo disfarçado. Por isso que a esperança cristã hoje é apenas uma construção teórica de um mundo escatológico cada vez mais distante. Os ateus e agnósticos questionam a demora de Jesus, que prometeu voltar a 2.000 anos e até hoje não retornou. Não quero criar mais uma resposta a essa pergunta, mas quando me defronto com ela é inevitável pensar que a esperança cristã transformou-se comodismo cristão.

Se em mim há esperança por algo melhor no futuro, então preciso antes do poder da insatisfação com o hoje. Preciso dizer que eu não quero só comida, não quero só o que me foi dado até hoje. Cuidado, seja grato a Deus por tudo, mas não esteja satisfeito com hoje, o amanhã pode reservar coisas melhores.

Pode ser que os insatisfeitos vejam a volta de Jesus antes mesmo dos esperançosos.


Jorge Luiz

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