segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Redescobrindo Deus nas adversidades - Mensagem pregada no Retiro 2009 da Betesda de Messejana

1 – Na Terra de Uz viveu um homem chamado Jó. Ele era justo, pois obedecia a Deus e se esforçava para nunca praticar o mal.

2 - Jó tinha uma família bem grande, sete filhos e três filhas.

3 - Além disso, era muito rico! Era o homem mais rico e poderoso daquela terra, pois tinha sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois, quinhentas mulas e um grande número de empregados e escravos.

4 - Quando um dos filhos de Jó fazia aniversário, todos os irmãos e irmãs se reuniam para uma grande festa, com bastante comida e bebida.

5 - Às vezes essas festas duravam vários dias. Quando terminavam, Jó reunia todos os seus filhos e oferecia sacrifícios para cada um, cedo de manhã, pedindo o perdão de Deus para eles. A razão que Jó tinha para fazer isso era a seguinte: "É possível que meus filhos tenham pecado e ofendido a Deus em seus pensamentos". Por isso, Jó repetia esses sacrifícios depois de cada festa.

(Jó, capítulo 1, Bíblia Viva)


O livro de Jó é uma parábola sobre como nossa mente religiosa procura fugir da dor e do sofrimento através da espiritualidade. Nos primeiros versículos do texto conhecemos um homem extremamente zeloso em suas tradições. Fazemos de Jó o símbolo ideal de “uma pessoa de fé”, ele é rico e temente a Deus. Mas do contrário que nós pensamos; a fé desse homem não é assim tão perfeita. Sua “espiritualidade” é tão interesseira quanto à de muitos de nós hoje. Ele tornara-se tão obsessivo e paranóico que até mesmo oferecia sacrifício pelos pecados dos filhos, procurando substituir a “falta de religiosidade” dos filhos.


Numa fala bastante reveladora do livro, Jó diz que havia tentado fugir daquele momento que tanto temia acontecer: - A desgraça que eu tanto temia acabou caindo sobre mim! (3:25).


Nosso estilo de religiosidade assemelha-se ao de Jó. Conscientes ou não, sempre acreditamos que a espiritualidade pode nos capacitar a ter uma vida blindada, ou pelo menos contamos com a ajuda dos céus para que certas situações adversas sejam resolvidas miraculosamente. Achamos que nossa adoração poderá livrar os nossos pés de terrenos pedregosos. E no fim das contas, resumimos nossa “relação” com Deus num “toma lá da cá”.


Quando “damos de cara” com vida real, e com a dor e sofrimento que ela carrega, somos violentamente desestabilizados. Como se alguém houvesse pisado em nosso castelo de areia, percebemos que essa tal segurança espiritual não existe. Quando a adversidade acontece, sempre passamos por três processos que Jó também passou:


1. Diante da dor tentamos aceitar o acontecimento como vontade de Deus. Nosso mundo cai e procuramos manter uma posição de tranqüilidade e equilíbrio.


2. Examinar se havia algum pecado em sua vida que justificasse a mão pesada de Deus.


3. Não encontrando falha nenhuma que justificasse tamanha dor em sua vida, Começamos a questionar a capacidade de Deus em promover a justiça no mundo. É a partir da dúvida que podemos redescobrir Deus ou abandoná-lo para sempre. A grande pergunta diante da adversidade é: Afinal, o que podemos esperar de Deus?


E sendo bem sincero, não sei muito o quê esperar de Deus, porque Deus é mistério, Ele é soberano e não está no meu poder prever suas atitudes. Apenas sei o que eu não devo esperar de Deus.


1. Não devo esperar que Deus possua o controle de cada detalhe da minha vida a ponto de me desviar do mal e do sofrimento, pois o mundo é injusto e estamos dentro dele. Fomos moldados pela espiritualidade do Êxodo, que revela um Deus dominador, que manifesta milagres abundantes e que cuida para que os israelitas não estejam carentes em nada. Ele cura toda doença, faz cair carne do céu, faz a rocha jorrar água. Mas isso não resultou em adoração sincera a Deus, em pureza de coração, em humildade. Quanto mais Deus fazia, mais afastado povo ficava. Deus quer ficar do nosso lado, e para isso ele renunciou este controle total da nossa vida. Ele não quer servos; e sim amigos.


2. Não espere que a fé em Deus seja a chave que torna o mundo mais compreensível. Quando Deus aparece a Jó no final do livro, ele não responde as dúvidas de Jó quanto à sua justiça. Deus não sente necessidade nenhuma de provar que é justo ou que ele tem o controle de tudo. Quanto mais Deus falava, mais Jó enxergava que a fé muitas vezes é crer sem entender. Creio apesar do absurdo. A fé é esperança além do que os olhos podem ver.


3. O Deus que precisamos redescobrir na adversidade chama-se Jesus Cristo, aquele que esvaziou-se e tornou-se como um de nós. Sentiu fome como nós, teve dores como nós, esteve aflito como nós, morreu como qualquer um de nós um dia morrerá. Assim como Deus falou com Jó de dentro de um furacão, Jesus fala conosco dentro da nossa realidade. Depois de Jesus, a Bíblia diz que Deus foi ainda mais radical e resolveu morar dentro de nós na pessoa do Espírito Santo. Isso significa que Deus desistiu de viver apenas no céu, com o controle remoto da nossa vida nas mãos. Ele quer agir não apenas por mim, mas através de mim.


Talvez você esteja se perguntando: de que me serve um Deus encarnado, esvaziado? Para que adorar um Deus que não pode transformar minha vida em um passe de mágica? Gostaria de te responder com outra pergunta: Você poderia amar a Deus mesmo sem poder esperar nada em troca? Dependendo de sua resposta você terá entendido ou não o que significa ser amigo de Deus.


Philip Yancey diz que o que salvou Jó não foram as palavras de Deus, mas a simples percepção que Deus estava com ele na sua dor. Posso não estar livre de toda dor e sofrimento, mas tenho fé de que em Deus posso suportar todas as coisas. Posso não estar livre da morte, mas creio que na ressurreição Deus me faz enxergar que ainda existe vida para além da morte e que ela não é o fim. Posso não estar livre da adversidade, mas creio que mesmo nos momentos de maior perplexidade, ele me compreende e fica sempre do meu lado.


Jorge Luiz

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