Ontem passou na TV o filme Menina de Ouro, dirigido por Clint Eastwood. Este é um daqueles filmes que te faz ir para cama indignado com o final.
Não estou dizendo que o filme é ruim, pelo contrário, é maravilhoso e faz jus as premiações que recebeu (4 Oscars e 2 Globos de Ouro). O filme é um drama profundo e cheio de detalhes difíceis de perceber.
Não pretendo contar o filme, até porque você que está me lendo neste momento pode não ter assistido; mas é inevitável não citar o final do filme, que mais mexeu comigo. É detestável contar o final para quem não assistiu, por isso peço desculpas.
Frank é o treinador de boxe de Maggie, uma grande revelação do boxe feminino na categoria meio-médio. Porém, ao lutar com a campeã da categoria, uma lutadora desonesta, ela leva um soco mesmo após ter finalizado o round e acaba tendo a coluna fraturada na altura do pescoço. Resultado: ficou tetraplégica, nem mesmo a cabeça poderia mais mover.
Ela sente que sua vida terminou, que foi até onde poderia ter ido, e que não há mais o que fazer. Para alguém que alcançou uma carreira meteórica, realizou-se naquilo que almejava, viver numa cama de hospital respirando por aparelhos seria pior do que a morte, seria ver que sua vida não chegou a resultado nenhum.
Ela então pede para que Frank desligue os aparelhos e termine com o sofrimento dela, e é isso que ele faz. Existe toda a polêmica da Eutanásia por trás desse final, ficando no ar a pergunta: Vale à pena prolongar a vida à custa do sofrimento físico, psicológico e emocional da pessoa?
Porém, concentrar-se apenas na polêmica da Eutanasia empobrece a mensagem do filme. O que me deixou realmente inquieto é ver que o filme não tem um “final feliz”. Aliás, a vida dos personagens não é nada feliz. Maggie tem uma família que só pensa no seu dinheiro e Frank tem uma filha que não dá a menor importância ao pai. Existem amarguras, arrependimentos e frustrações permeando o filme a todo o momento. Não é um daqueles dramas que “só acontecem em filmes”, mas são problemas e decisões reais, que fazem parte da vida de muitos.
Ficou então mais claro para mim que não sei lhe dar com a vida se ela não tiver “final feliz”. A vida sempre precisa “dar certo”, deve “funcionar bem”. É difícil aceitar que as coisas não vão sempre ser bem resolvidas e que nem tudo vai terminar bem. Certamente eu gostaria de ver aquela menina curada, levantando-se daquela cama como que por um milagre, contrariando todas as declarações médicas sobre seu estado. Mas não foi bem assim, e a vida realmente não é bem assim.
Não sabemos lhe dar com as intempéries, com as dificuldades, com a morte. Confesso meu total despreparo diante de situações extremas. Não consigo aceitar que existem momentos em que temos que escolher a morte como a melhor opção, pois não me ensinaram que a morte seria “a melhor opção”. Não consigo entender a dor e o sofrimento como parte de um plano para minha vida.
Tal desejo mostra como estou: “com a boca escancarada, cheia de dentes”, olhando para o céu em busca do milagre que faça mudar minha situação difícil. Desejamos o milagre que leve a um final feliz; mas talvez precisássemos ver “milagres” onde o final não é tão feliz.
Só fica uma conclusão pra mim: preciso conciliar em mim “a vida como ela é” e a “vida como ela deveria ser”. Será que posso?
Jorge Luiz
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