quinta-feira, 30 de julho de 2009

A IGREJA QUE NÃO EXISTE MAIS - TEXTO DE ARIOSVALDO RAMOS

01


“Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens e os repartiam por todos, segundo a necessidade de cada um. E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E cada dia acrescentava-lhes o Senhor os que iam sendo salvos.” At 2. 43-47

Na época do surgimento da Igreja do Novo Testamento, a palavra igreja significava, apenas, uma reunião qualquer de um grupo organizado ou não. Assim, o texto nos revela que havia um grupo organizado em torno de sua fé (Todos os que criam estavam unidos) – todos acreditavam em Cristo.

Segundo o texto, os participantes do grupo do Cristo não tinham propriedade pessoal, tudo era de todos (tinham tudo em comum)– os membros desse grupo vendiam suas propriedades e bens e repartiam por todos – e isso era administrado a partir da necessidade de cada um; e se reuniam todos os dias no templo; e pensavam todos do mesmo jeito, primando pelo mesmo padrão de vida (unânimes); e comiam juntos todos os dias, repartidos em casas, que, agora, eram de todos, uma vez que não havia mais propriedade particular; e eram alegres e de coração simples; e viviam a louvar a Deus; e todo o povo gostava deles, e o grupo crescia diariamente. Diariamente, portanto, havia gente acreditando em Cristo, se unindo ao grupo, abrindo mão de suas propriedades e bens e colocando tudo a disposição de todos.

Essa Igreja era a Comunhão dos santos – chamados e trazidos para fora do império das trevas, para servirem ao Criador, no Reino da Luz.

Essa Igreja não precisava orar por necessidades materiais e sociais, bastava contar para os irmãos, que a comunidade resolvia a necessidade deles.


Deus havia respondido, a priori, todas as orações por necessidades materiais e sociais, fazendo surgir uma comunidade solidária.

O pedido: “O pão nosso de cada dia, dá-nos hoje. (MT 6.9) ” estava respondido, e diariamente.

Então, para haver o “pão nosso” não pode haver o pão, o bem ou a propriedade minha, todos os bens e propriedades têm de ser de todos.

Mais tarde, eles elegeram um grupo de pessoas, chamadas de diáconos – garçons, para cuidar disso (At 6.3). Então, diante de qualquer necessidade, bastava procurar os garçons, que a comunidade cuidava de tudo. Era o princípio do direito: se alguém tinha uma necessidade, a comunidade tinha um dever.

Essa Igreja não existe mais!

02


“Está doente algum de vós? Chame os anciãos da igreja, e estes orem sobre ele, ungido-o com óleo em nome do Senhor; e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados.” Tg 5.14,15

Os membros da comunidade do Cristo não precisavam orar por cura física, bastava procurar os presbíteros: lideres eleitos pelo povo, a partir de suas qualidades como cristãos (1Tm 3.1-7); que eles ungiriam com óleo, que representa a ação do Espírito Santo, porque é o Espírito Santo, quem unge e cura (Lc 4.18), e a pessoa seria curada; claro, sempre segundo a vontade do Senhor, porque essa é a regra de ouro: “Venha o teu Reino, seja feita a tua vontade, assim na Terra como no Céu. (MT 6.10)”

Os crentes em Jesus de Nazaré, não precisavam fazer varredura espiritual para ver se tinham qualquer problema, parecido com o que hoje é chamado de maldição hereditária, ou similar. A oração dos presbíteros ministrava o perdão de Deus, conquistado por Cristo na cruz e na ressurreição.

Deus havia respondido todas as orações por cura física pela instituição de presbíteros, que tinham a autoridade para ministrar o poder de Cristo sobre a enfermidade, segundo a vontade de Deus, dependendo, portanto, apenas, do que o Altíssimo tivesse decidido sobre a pessoa em questão.

Essa Igreja não existe mais!

03


Pelo que orava a Igreja do Novo Testamento?

“Mas eles ainda os ameaçaram mais, e, não achando motivo para os castigar, soltaram-nos, por causa do povo; porque todos glorificavam a Deus pelo que acontecera; pois tinha mais de quarenta anos o homem em quem se operara esta cura milagrosa. E soltos eles, foram para os seus, e contaram tudo o que lhes haviam dito os principais sacerdotes e os anciãos. Ao ouvirem isto, levantaram unanimemente a voz a Deus e disseram: Senhor, tu que fizeste o céu, a terra, o mar, e tudo o que neles há; que pelo Espírito Santo, por boca de nosso pai Davi, teu servo, disseste: Por que se enfureceram os gentios, e os povos imaginaram coisas vãs? Levantaram-se os reis da terra, e as autoridades ajuntaram-se à uma, contra o Senhor e contra o seu Ungido. Porque verdadeiramente se ajuntaram, nesta cidade, contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, não só Herodes, mas também Pôncio Pilatos com os gentios e os povos de Israel; para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho predeterminaram que se fizesse. Agora pois, ó Senhor, olha para as suas ameaças, e concede aos teus servos que falem com toda a intrepidez a tua palavra, enquanto estendes a mão para curar e para que se façam sinais e prodígios pelo nome de teu santo Servo Jesus. E, tendo eles orado, tremeu o lugar em que estavam reunidos; e todos foram cheios do Espírito Santo, e anunciavam com intrepidez a palavra de Deus.” At 4.21-31

Oravam para que nenhum sofrimento os impedisse de glorificar a Cristo, de anunciá-lo com coragem e determinação – o Cristo que eles viviam diariamente pela fraternidade solidária. Oravam por missão!

Para além da Igreja que está sob perseguição, não há sinal de que essa Igreja ainda exista!

04


O que existe?

- A Comunhão dos santos existe na realidade da Igreja invisível. Mas, que relevância tem na história uma igreja invisível?
- Ajuntamentos cúlticos – há os que procuram se pautam pela Bíblia, e os que nem tanto.
- Instituições – (muitas e cada vez mais) há as que ainda tentam ser apenas um odre para o vinho, e as que nem tanto.
- Discursos sobre Cristo e sua obra – há os que falam sobre Jesus, segundo a Bíblia, e os que nem tanto.
- Conversões pessoais – há as que trazem marcas do Novo Testamento, e as que nem tanto.
- Missionários – há os que pregam a Cristo, sua morte e ressurreição, e os que nem tanto. O apoio ao missionário está mais para esmola do que para sustento.
- Ação social – há as que querem emancipar o pobre, por amor a Cristo, e as que nem tanto.
- Pastores e Lideres – há os que tentam alcançar o padrão dos presbíteros do Novo Testamento, e os que tanto menos.
- Títulos - em profusão, constratanto com a escassez de irmãos.
- Orações - principalmente, por necessidades materiais, sociais e de cura, que parecem não ser respondidas, pelo menos, não a contento.
- Milagres – (mas pessoais) a misericórdia divina continua se manifestando, porém, não se entende mais o princípio de sua ação.
- Ministérios – há os que são ministros (servos), e os que nem tanto.
- Riqueza – Instituições estão cada vez mais ricas, e há os que usufruem da mesma.

- Ricos e Poderosos - muitos e cada vez mais se declaram conversos, mas não se converteram como Zaqueu.
- Irmãos e irmãs que amam a Cristo e a Igreja, mas que estão cada vez mais confusos sobre o que estão assistindo – e há, cada vez mais, um amor em crise.

E ecoa a voz do Cristo: Contudo quando vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra? (Lc 18.8)

Talvez, ainda haja tempo de pedir perdão!

terça-feira, 14 de julho de 2009

REFORMAS INTERNAS

Estava lendo sobre a história do rei Josias em 2Reis e como ele estabeleceu sua famosa reforma religiosa.

Josias implementou tamanha reforma religiosa, e consequentemente cultural, que até mesmo fora expandida ao reino de Israel (Norte) já dominado pelos Assírios. Este rei não combateu somente as formas declaradas de paganismo, mas também enfrentou todas as expressões de sincretismo religioso que se estabelecera em Judá, levando a uma deturpação nociva da verdadeira adoração a Iahweh.

Mas mesmo assim a Bíblia fala que Deus não recuou na sua sentença contra Judá. Deus estava decidido em fazer justiça contra aquele povo que praticava impiedades tais como o sacrifício de crianças ao deus Moloc. Toda a atitude de Josias e do povo não foi suficiente para “comover” o coração de Deus.

Mas porque Deus não voltou atrás?

Durante minha leitura comecei a me perguntar por que Deus não restaurou completamente a sorte de Judá no reinado de Josias. Deus já havia recuado em outras situações ruins, mas neste caso o Senhor foi inflexível quanto a sua sentença, poupando apenas o rei, de maneira que a desgraça de Judá não ocorresse durante seu reinado.

Judá havia conseguido superar as iniqüidades de Israel. Manassés sujou Israel com todas as suas imundícies, pois além de ter sido infiel a Deus, praticou também a injustiça, assassinando pessoas inocentes como o próprio profeta Isaías. Este rei, avô de Josias, introduziu imagens de deuses pagãos dentro do templo de Jerusalém de tal forma que o autor do livro cita:

“... Manassés os corrompeu (o povo judeu), a tal ponto que fizeram mais mal que as nações que Iahweh havia exterminado diante dos israelitas.”

Sendo assim, por mais boa vontade e devoção da parte de Josias em buscar restaurar a verdadeira adoração a Iahweh, a questão não era mais meramente religiosa. A mudança litúrgica e cultual não adiantava mais. Era uma questão de coração e não de religião.

As reformas de Josias, assim como todas as reformas religiosas, não alcançam à essência do problema. O rei estava dando o pontapé inicial, mas até mesmo seu filho e sucessor não deu continuidade as suas reformas. O povo estava tão corrompido que a reformas não passaram do ambiente externo

A reforma que Judá precisava era interna, uma mudança de mente e coração, uma nova visão quanto à verdadeira relação com Deus, e o próprio Deus estava disposto a uma nova relação com seu povo. Porém, não seria a restauração da antiga religião de Iahweh que faria isso. O povo judeu não era mais aquele mesmo que havia saído do Egito, e o próprio Deus não era mais para Israel como no passado. A situação era outra, as relações eram outras, as pessoas eram outras, e a reforma necessária era completamente diferente daquela.

Acredito que a atitude de Josias foi importante para plantar no coração do judeu exilado uma semente de devoção que se voltaria para Deus. A reforma foi como um grande sinal que acompanhou aquela geração que sofreu na pele a conseqüência dos pecados de seus antepassados; um sinal de que sempre há chance de voltar atrás. O exílio era a forma de “purificar” o coração do povo, e a reforma serve para mostrar o caminho que se deve trilhar.

Reforma só funciona se acompanhar uma purificação, uma mudança espiritual de foro intimo que possa restaurar os caminhos do nosso coração, as nossas direções. Se a mente o coração não estiverem bem direcionados, qualquer reforma religiosa não passará de pura estética. Na verdade Josias fez um caminho que o povo não havia feito, ele primeiro tinha o coração em Deus para depois reformar, já o povo começou pela reforma, mas o coração não estava na mesma direção.

Vivemos a Reforma como causa da nossa religião, ou conseqüência da nossa devoção?



Jorge Luiz

quinta-feira, 2 de julho de 2009

SOBRE A MORTE DE MICHAEL JACKSON - MARCELO QUINTELA (CAMINHO DA GRAÇA - SANTOS)

Michael Jackson saiu de cena.

A TV repete que sua morte nos pegou “de surpresa”. Mas nada era tão sutilmente óbvio nesse conto de fadas do pop como o fato de que nós nunca o veríamos ‘velho’

Peter Pan nunca será vovô! Ele se apavorava com a idéia de crescer!

Como agora me parece lógico que Michael Jackson não envelheceria! Ele nem se suportaria senil… Trataria de destruir o que sobrou do rosto, antes de ver-se enrugado!

Deus o livrou de si mesmo! Seria menino sempre… Sempre enfeitado, maquiado, recolorido, repaginado, refém da fantasia!

Morreu antes de ser velho porque seu coração infantilizado não suportou os efeitos da dor sedada!

Dói demais querer viver sem sentir dor!

Vítima do medo de não conseguir “chamar atenção”, só ele não enxergava o quanto inspirava e chocava todo mundo em nossa cultura, que elege como “rei”, “astro”, “ídolo” e “ícone” gente da indústria do entretenimento, que gira mais dinheiro do que todos os outros pólos de produção humana juntos!

Que interessante! Esse planeta é uma grande brincadeira! Parece mesmo Neverland – A Terra do Nunca, que o menino bizarro construiu para brincar, solitário.

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Michael…

Já está bom. Acabou o show! A gente já se divertiu bastante e dançou na lua contigo (1)!

Pena que você não conheceu nosso verdadeiro Pai ainda nessa vida. Era Ele quem se expressava quando você cantava sendo um menininho ainda negro: “You and I must make a pact. We must bring salvation back. Where there is love, I´ll be there!”

Mas Ele, meu Pai, conhece você! E sabe do que você é feito, apesar das máscaras todas com as quais se vestiu!

Agora… Just call his Name, He’ll be there…

Vai, menino doente. Vai conhecer o Pai que você nunca teve!

Vai, moço rico e carente… Não há mais dor no colo do Amor! E Ele não vai te jogar fora por uma janela do céu, nem mesmo de brincadeira!

Quiçá a gente vai se encontrar em eternos cenários sem encenações, onde a Verdade reina de cara exposta!

A gente logo vai se ver em “Everland – A Terra do Sempre!”, a Casa de meu Pai, que tem muitas moradas… E lugar para você também!

Afinal, ninguém será condenado à “terra do eterno-nunca” só porque foi o mais famoso dos moribundos dessa geração tão esquisita quanto seu ídolo!

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(1) Quando eu era menino, aprendi os passos chamados “Moon Walk”, que Michael Jackson ensinou toda a minha geração a dançar


Marcelo Quintela

Santos/SP

NEM TODO FINAL É FELIZ

Ontem passou na TV o filme Menina de Ouro, dirigido por Clint Eastwood. Este é um daqueles filmes que te faz ir para cama indignado com o final.

Não estou dizendo que o filme é ruim, pelo contrário, é maravilhoso e faz jus as premiações que recebeu (4 Oscars e 2 Globos de Ouro). O filme é um drama profundo e cheio de detalhes difíceis de perceber.

Não pretendo contar o filme, até porque você que está me lendo neste momento pode não ter assistido; mas é inevitável não citar o final do filme, que mais mexeu comigo. É detestável contar o final para quem não assistiu, por isso peço desculpas.

Frank é o treinador de boxe de Maggie, uma grande revelação do boxe feminino na categoria meio-médio. Porém, ao lutar com a campeã da categoria, uma lutadora desonesta, ela leva um soco mesmo após ter finalizado o round e acaba tendo a coluna fraturada na altura do pescoço. Resultado: ficou tetraplégica, nem mesmo a cabeça poderia mais mover.

Ela sente que sua vida terminou, que foi até onde poderia ter ido, e que não há mais o que fazer. Para alguém que alcançou uma carreira meteórica, realizou-se naquilo que almejava, viver numa cama de hospital respirando por aparelhos seria pior do que a morte, seria ver que sua vida não chegou a resultado nenhum.

Ela então pede para que Frank desligue os aparelhos e termine com o sofrimento dela, e é isso que ele faz. Existe toda a polêmica da Eutanásia por trás desse final, ficando no ar a pergunta: Vale à pena prolongar a vida à custa do sofrimento físico, psicológico e emocional da pessoa?

Porém, concentrar-se apenas na polêmica da Eutanasia empobrece a mensagem do filme. O que me deixou realmente inquieto é ver que o filme não tem um “final feliz”. Aliás, a vida dos personagens não é nada feliz. Maggie tem uma família que só pensa no seu dinheiro e Frank tem uma filha que não dá a menor importância ao pai. Existem amarguras, arrependimentos e frustrações permeando o filme a todo o momento. Não é um daqueles dramas que “só acontecem em filmes”, mas são problemas e decisões reais, que fazem parte da vida de muitos.

Ficou então mais claro para mim que não sei lhe dar com a vida se ela não tiver “final feliz”. A vida sempre precisa “dar certo”, deve “funcionar bem”. É difícil aceitar que as coisas não vão sempre ser bem resolvidas e que nem tudo vai terminar bem. Certamente eu gostaria de ver aquela menina curada, levantando-se daquela cama como que por um milagre, contrariando todas as declarações médicas sobre seu estado. Mas não foi bem assim, e a vida realmente não é bem assim.

Não sabemos lhe dar com as intempéries, com as dificuldades, com a morte. Confesso meu total despreparo diante de situações extremas. Não consigo aceitar que existem momentos em que temos que escolher a morte como a melhor opção, pois não me ensinaram que a morte seria “a melhor opção”. Não consigo entender a dor e o sofrimento como parte de um plano para minha vida.

Tal desejo mostra como estou: “com a boca escancarada, cheia de dentes”, olhando para o céu em busca do milagre que faça mudar minha situação difícil. Desejamos o milagre que leve a um final feliz; mas talvez precisássemos ver “milagres” onde o final não é tão feliz.

Só fica uma conclusão pra mim: preciso conciliar em mim “a vida como ela é” e a “vida como ela deveria ser”. Será que posso?



Jorge Luiz

Texto escrito em 2008

terça-feira, 23 de junho de 2009

O POUCO QUE SEI SOBRE A MORTE JÁ É SUFICIENTE

A morte é inaceitável. Percebo isso na busca determinada de minha mãe por explicações plausíveis no espiritismo. A morte de um jovem de 24 anos de forma tão rápida por uma doença que se manifestou num curto espaço de tempo leva todos a se questionarem, principalmente os pais.

É justamente por essa busca que nasceram as religiões e suas mais mirabolantes teorias. Detentoras de conhecimentos profundos, revelados por iluminação, as religiões procuram demonstrar fatos que comprovem suas teorias acerca da vida após a morte.

Não é de se espantar que os primeiros capítulos do Gênesis tratem justamente da introdução da morte na criação. Nas conversas com a minha mãe e suas certezas sobre a vida pós-morte, comecei a me indagar sobre o que a Bíblia realmente tem a falar sobre morte. Será que ela realmente explica e traz fatos elucidatórios a esse grande mistério que nos cerca?

Na leitura do Gênesis, algumas coisas me vêm à mente:

1. A morte não fazia parte do “plano original da criação”. Não é a toa que ela seja tão contraria ao nosso desejo por viver, ou como diz os cientistas, o nosso “instinto de sobrevivência”. Não há um trecho antes da queda afirmando que a morte tenha sido uma das criações de Deus. A morte era uma possibilidade.

2. Havia duas árvores no jardim: A da Vida e a do conhecimento do bem e do mal. Respeitando o mito, tais árvores representam as possibilidades das escolhas humanas. A primeira estava no centro do jardim, no centro do projeto divino, representando a caminhada com Deus, o crescimento relacional entre a criação e o criador, a harmonia cósmica na plena expressão da imagem e semelhança de Deus no homem. Na integridade entre criador e criatura reside a vida eterna.

3. A segunda árvore representa a autonomia humana e seu conseqüente estado paradoxal. Não quero me relacionar com Deus como criatura; não quero ser semelhança de Deus, mas igual a Ele; não quero ser uma peça dentro do projeto de Deus, mas possuir meus próprios projetos onde provavelmente Deus não fará parte. Em sua independência, o homem tornou-se um ser de contradições, incompleto, onde bem e mal habitam seu interior numa vida dividida. O homem não controla o conhecimento do que é bom ou ruim, mas o mal o controla, levando a oscilar entre momentos bons e ruins, escolhas boas e más, pensamentos puros ou não. Fugindo da “prisão de Deus” o homem tornou-se cativo de si mesmo.

4. Assim, a morte não é o castigo, mas uma libertação. A morte é o fim de uma vida de contradições, a quebra de um ciclo de inconstância e incoerência eternas. Ou seja, a morte nos humilha na nossa pretensão de autonomia, nos faz recordar que não temos realmente o controle de tudo, nos leva a ponderar sobre o imprevisível, recorda que somos limitados e carentes. Apesar da nossa liberdade, o amor de Deus interfere a nosso favor, introduzindo a morte como libertação desse cativeiro criado por nós mesmos.

Porém, não há mais nada o que falar. Não sei como é a vida do lado de lá e não conheço quem tenha ido e voltado para contar. Não sei nem mesmo se o que eu disse nas linhas anteriores seja uma explicação realmente plausível para a realidade da morte. Apenas não gosto de pensar na morte como castigo, mas como oportunidade de liberdade. Por isso a tradição cristã nos fala que a morte já começa em vida, pois quando cremos em Jesus estamos mortificando o nosso eu e suas contradições, sendo assim preparados para uma ressurreição de vida plena, de integridade, onde não haverá mais bem ou mal, pecado e obediência, doença, choro, mas somente relacionamento completo entre Deus e os homens.

Não quero explicações detalhadas sobre a morte, sobre a vida pós-morte, sobre céu ou inferno, reencarnação ou ressurreição; pois nenhuma explicação alivia a dor de se perder um ente querido. Não sigo os fatos, e sim a fé de que a morte, para os que crêem em Jesus, é o fim de um capítulo mal escrito por mim mesmo e o começo de uma nova história escrita em parceria com Deus.

Para Aquele que sempre quer andar conosco, mesmo no vale da sombra da morte.

Jorge Luiz