Uma das melhores formas de interpretar bem um texto bíblico é fazer
perguntas a ele. Verdadeiramente a intenção de muitas passagem é
gerar em nós dúvidas para que assim alcancemos as melhores
respostas.
Vale salientar que não há perguntas “bobas” quando se trata de
Bíblia. Toda pergunta originada de uma leitura séria e devotada é
válida e importante. São a partir delas que novos caminho para o
entendimento bíblico podem ser desbravados.
Sendo assim, uma das primeiras perguntas “bobas” que faço ao ler
esse texto é: Que problema Jesus tinha com a figueira? Que mal fez a
pobre figueira para ser amaldiçoada e morta? Antes de responder essa
pergunta, precisamos procurar entender um pouco sobre esta árvore.
A figueira e seu significado
Assim como a videira, a figueira era um simbolo da nação de Israel
por ser comum em seus territórios. Era uma árvore significativa, já
que seus frutos serviam para alimentar e para produzir remédios. É
uma arvore vistosa e seus galhos se espalham de tal forma que geram
uma sombra espaçosa e agradável.
A época de frutos bons era o mês de Junho, e provavelmente os
eventos narrados em Marcos ocorreram em Abril. Contudo, figueiras
frondosas no mês Abril costumam já estar com os chamados “frutos
precoces” (no hebraico pash, que já indicavam a futura
colheita). Estes não eram tão bons quanto os da safra de Junho, mas
eram próprios para consumo.
O desapontamento de Jesus e sua atitude para com a figueira se
justificam pelo fato de que ele esperava encontrar pelo menos frutos
verdes para poder se alimentar. De certa forma podemos dizer que as
folhas frondosas da figueira “enganaram” Jesus.
Uma parábola encenada
Jesus amaldiçoa a figueira para representar aos discípulos o que
ocorreria logo adiante. Note que Marcos corta a parábola com o
episódio de Jesus e os comerciantes do Templo. Sua ira se justifica
pela mesma decepção provocada pela videira sem frutos.
O Templo e a figueira são sinônimos de estruturas belas, porém
infrutíferas. Assim como a figueira tem como função fornecer
alimento e remédio, o Templo deveria ser o lugar para se buscar a
Deus em orações e receber dele cura, perdão e sentido para a vida.
Contudo, Jesus não encontra no templo o “fruto espiritual” que
procurava, assim como não encontrou fruto na figueira.
A figueira e o Templo são representações de uma condição de
aparência. É o chamado “parece mas não é”. O Templo tornou-se
um lugar de ladrões que formaram um sistema de engano, apegado a rituais vazios e contaminados por amor ao dinheiro. Alimento de
verdade não havia ali, apenas exploração da fé e alienação.
Conclusão
Fica claro que Jesus não encontrou no Templo aquilo que ele
realmente procurava, assim como não encontrou os frutos da figueira.
A maldição que secou a figueira representa a ira da decepção de
Jesus sobre o tipo de religiosidade inoperante e enganosa que reinava
em plena Casa de Deus.
O que então Jesus procura? Com certeza a essência: assim como fruto
é a razão de ser da árvore, a vida com Deus é a razão de ser de
uma comunidade cristã. Esta vida é fundamentada no pilar da oração,
perdão e fé.
Perceba que Jesus critica o Templo por não ser mais um lugar de
oração. Ora, a oração acompanhada de um coração quebrantado é
mais agradável a Deus do que os holocaustos e sacrifícios vãos (Os
6.6). É somente através da oração que podemos criar vínculos
verdadeiros e transformadores com Deus.
Oração e Perdão caminham juntos, até porque viver em
reconciliação com Deus exige a capacidade de reconciliar-se com o
próximo. Quem busca o perdão de Deus não precisa sacrificar
animais, e sim sacrificar a si mesmo, seus direitos e suas razões e
liberar a graça sobre os outros para que assim possa experimentar a
graça de Deus em si mesmo.
Nada disso se sustenta sem Fé, que significa confiar em Deus pelo
que ele é, e não pelo que podemos fazer para “agradá-lo”.
Acredito que Jesus continua a procurar entre nós e nossas Igrejas o
mesmo fruto que ele buscava no Templo. Uma vida que esteja além das
aparências, porque nelas se esconde o engano. Mais do que
religiosidade, prédios luxosos, estruturas metodicamente
organizadas, espera-se mais profundidade com Deus, mais perdão, mais
oração e mais fé.
Fica a triste mensagem: vidas firmadas em aparência sempre secarão
por faltar a verdadeira essência.
Jorge Luiz