sábado, 29 de outubro de 2011

30 anos

Hoje completo 30 anos de vida. Desde já espero ainda escrever muitas páginas à frente, mas no meu livro da vida, muita coisa eu já escrevi e li.
 
Minha história está repleta de erros e acertos, choros e risos, tempestades e calmarias. Até aí nenhuma novidade, pois a vida de todo mundo é assim. Contudo, hoje consigo aceitar melhor o fato de que cada momento da minha história, até mesmo aqueles que não me agradam; contribuíram para tornar-me o que sou. Pode parecer bobagem, mas aceitar a própria história é realmente algo libertador.
Com isso, já posso tirar algumas lições para escrever melhor as próximas paginas do meu livro da vida. Aprendi, por exemplo, que existe uma linha tênue entre obstinação e loucura. Graças ao meu pai hoje eu entendo que alguém deveras obstinado é incapaz de ouvir conselhos e reavaliar sua posição e seu caminho. O obstinado é facilmente escravizado pelos seus sonhos. Perdoem-me os que consideram a obstinação uma qualidade, mas nesses 30 anos de vida aprendi que ela é um terrível defeito.
Descobri que a humildade é a virtude mais desejável. Com ela, estamos abertos a ouvir quem está ao nosso redor, e a reavaliar a rota quando nos percebemos errados. Verdadeiramente, reconhecer os seus próprios erros é uma capacidade que pertence apenas aos humildes.
Com a humildade vem à gratidão, e sem ela ninguém é capaz de reconciliar-se com seu passado. Gratidão substitui à revolta e te faz entender que nem tudo que ocorre na vida estava passível de controle.
Saber de tudo isso não significa dizer que já possuo e domino essas qualidades. De fato, ainda há muito a ser construído no meu caráter. Mas o fato de entender e tentar viver de acordo com essas verdades já me deixa bastante animado. Torno-me alguém melhor.
Que nas próximas páginas da minha vida o enredo esteja pautado nessas orientações. Apenas não quero esquecer de que neste livro, existe um “coautor” capaz de transformar-me cada vez mais no melhor personagem da minha própria história.

A Jesus, o autor da minha Vida.


    

Batalha Espiritual - Parte 1


Para quem é evangélico há mais de dez anos sabe que o tema “batalha espiritual” estava entre os mais comentados e estudados. Se houvesse twitter, facilmente seria um trending topic entre os temas religiosos. Seminários, retiros, vídeos, livros e apostilas sobre esse assunto eram vastos. Até mesmo grandes nomes entre os pastores evangélicos chegaram a escrever livros sobre essa temática[1].
Contudo, hoje é um assunto praticamente marginalizado. Quem ousa falar em batalha espiritual é considerado fundamentalista, ignorante, medievalista... Em suma, um completo “fora de moda”. Os pregadores do evangelho “atualizado” e pós-moderno afirmam que Satanás, demônios, possessão e opressão espiritual são conceitos de uma cosmovisão mitológica que isenta o homem da culpabilidade de seus próprios atos de maldade. Ou seja, é o mesmo que acreditar em Saci-Pererê e Mula-sem-cabeça, afirmando que quem faz a “traquinagem” é o saci, e não eu.
Para estes pseudointelectuais da religião, o mal é apenas ausência de Deus e a maldade são as ações humanas daqueles que estão longe do propósito divino. Abandonar a ideia de que há um ser espiritual maligno que age sobre a humanidade é algo libertador, pois faz com que sejamos honestos com nossos defeitos e falhas.
Mesmo sabendo que serei tachado de fundamentalista e infantil, não me esquivo de dizer que não acredito nesse evangelho intelectual. Discordo dessas construções filosóficas e acredito piamente que tal postura apenas contribui para que Satanás e seus servos possam agir de forma acobertada e tranquila.
Uma das primeiras falácias da lógica dos "novos" eruditos evangélicos está na afirmação de que a crença na existência do diabo isenta o homem de ser responsabilizado pelos seus atos. Verdadeiramente uma coisa não anula a outra. A Bíblia revela que Satanás sugere e busca convencer homem de que viver contra a vontade de Deus é o melhor caminho. Porém, transformar essa sugestão em prática de vida é uma escolha da vontade humana. Foi isso que aconteceu no Éden, e que ainda ocorre até hoje.
Quem torna o mal uma realidade no mundo é o homem, e Satanás contribui para esse processo. Guardando as devidas proporções, podemos comparar como um crime em que há um autor intelectual e o criminoso de fato. Perante a lei, ambos são culpados, tanto aquele que planejou como o que executou o crime.
Perdoem-me o possível literalismo, mas prefiro permanecer com a Bíblia que faz uma afirmação enfática: O mundo jaz no Maligno! (1Jo 5.19). A intenção do autor é afirmar que os sistemas humanos de governos opressores são produtos da ação do mal sobrenatural sobre a terra. Negar a realidade de que Satanás continua a agir sobre os caminhos da humanidade é a receita certa para produzirmos um evangelho adulterado, imoral e que apenas servirá aos interesses do príncipe das trevas.
Paulo também afirma que nossa luta não é contra homens, mas contra a influência dos poderes dos espíritos do mal (Ef 6.12). Ao citar a metáfora da armadura de Deus, ele está falando sobre como o discípulo de Jesus pode estar capacitado para lutar contra todas as investidas do inimigo.
Continuarei esse texto procurando entender como a metáfora da armadura de Deus nos ensina sobre a verdadeira Batalha Espiritual que um discípulo deve travar contra os poderes do diabo. Por hora, me contento em reafirmar que o inimigo existe sim. De natureza espiritual, ronda-nos como um leão feroz, tramando para nos conduzir a posturas e atitudes destrutivas, que nos desviam da verdadeira fé e caminho (1Pe 5.8).
Apesar de agir contra os propósitos de Deus, sua existência não implica em livrar o homem da culpa de seus atos. Assim como o Espirito Santo de Deus é a força que nos inspira a viver uma vida de acordo com a vontade de Deus, Satanás e seus servos agem como um poder sobrenatural que insufla o homem a permanecer escravo de suas paixões egoístas. O campo de batalha está instalado nas nossas emoções, motivações e decisões. Mas cabe a nós a ação final.


[1] Caio Fabio escreveu o livro Batalha Espiritual e Ricardo Gondim Os Santos em Guerra.

sábado, 22 de outubro de 2011

Ore por sua vida

Oração não é apenas petição. Contudo, se fores pedir, peça vida e sabedoria.
Porque saúde não significa viver muito: quantos morrem repentinamente sem estarem doentes? Assim, quem entende o valor da vida com sabedoria descobre que o seu valor é bem maior que as enfermidades que nos acometem.
Dinheiro não significa viver muito. Pode proporcionar conforto e também muitas tragédias. Ou não é verdade que filhos matam seus pais e que familiares passam a se odiar apenas para desfrutar dos prazeres do "vil metal"?
A cada dia me convenço que o melhor a se pedir é a benção de uma vida longa e bem vivida. Porque vida longa é a melhor ação de Deus parar dobra nosso orgulho e egoísmo. Vida longa nos proporciona valiosas chances de mudar, e que seja pra melhor.
Vida bem vivida incluir ser grato por tudo que somos e conquistamos. Gratidão é a semente da humildade, porque quem é grato sabe que não alcançou nada sozinho.  E assim, reconhece Deus, família, amigos, opositores e até mesmo inimigos como parte de tudo que o faz ser quem é.

Sendo assim, peça a Deus vida longa e bem vivida, com sabedoria, humildade, respeito, sem nunca esquecer a gratidão.

Jorge

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A Busca de Jesus (Mc 11.12-25)


Uma das melhores formas de interpretar bem um texto bíblico é fazer perguntas a ele. Verdadeiramente a intenção de muitas passagem é gerar em nós dúvidas para que assim alcancemos as melhores respostas.

Vale salientar que não há perguntas “bobas” quando se trata de Bíblia. Toda pergunta originada de uma leitura séria e devotada é válida e importante. São a partir delas que novos caminho para o entendimento bíblico podem ser desbravados.

Sendo assim, uma das primeiras perguntas “bobas” que faço ao ler esse texto é: Que problema Jesus tinha com a figueira? Que mal fez a pobre figueira para ser amaldiçoada e morta? Antes de responder essa pergunta, precisamos procurar entender um pouco sobre esta árvore.


A figueira e seu significado

Assim como a videira, a figueira era um simbolo da nação de Israel por ser comum em seus territórios. Era uma árvore significativa, já que seus frutos serviam para alimentar e para produzir remédios. É uma arvore vistosa e seus galhos se espalham de tal forma que geram uma sombra espaçosa e agradável.

A época de frutos bons era o mês de Junho, e provavelmente os eventos narrados em Marcos ocorreram em Abril. Contudo, figueiras frondosas no mês Abril costumam já estar com os chamados “frutos precoces” (no hebraico pash, que já indicavam a futura colheita). Estes não eram tão bons quanto os da safra de Junho, mas eram próprios para consumo.

O desapontamento de Jesus e sua atitude para com a figueira se justificam pelo fato de que ele esperava encontrar pelo menos frutos verdes para poder se alimentar. De certa forma podemos dizer que as folhas frondosas da figueira “enganaram” Jesus.


Uma parábola encenada

Jesus amaldiçoa a figueira para representar aos discípulos o que ocorreria logo adiante. Note que Marcos corta a parábola com o episódio de Jesus e os comerciantes do Templo. Sua ira se justifica pela mesma decepção provocada pela videira sem frutos.

O Templo e a figueira são sinônimos de estruturas belas, porém infrutíferas. Assim como a figueira tem como função fornecer alimento e remédio, o Templo deveria ser o lugar para se buscar a Deus em orações e receber dele cura, perdão e sentido para a vida. Contudo, Jesus não encontra no templo o “fruto espiritual” que procurava, assim como não encontrou fruto na figueira.

A figueira e o Templo são representações de uma condição de aparência. É o chamado “parece mas não é”. O Templo tornou-se um lugar de ladrões que formaram um sistema de engano, apegado a rituais vazios e contaminados por amor ao dinheiro. Alimento de verdade não havia ali, apenas exploração da fé e alienação.


Conclusão

Fica claro que Jesus não encontrou no Templo aquilo que ele realmente procurava, assim como não encontrou os frutos da figueira. A maldição que secou a figueira representa a ira da decepção de Jesus sobre o tipo de religiosidade inoperante e enganosa que reinava em plena Casa de Deus.

O que então Jesus procura? Com certeza a essência: assim como fruto é a razão de ser da árvore, a vida com Deus é a razão de ser de uma comunidade cristã. Esta vida é fundamentada no pilar da oração, perdão e fé.

Perceba que Jesus critica o Templo por não ser mais um lugar de oração. Ora, a oração acompanhada de um coração quebrantado é mais agradável a Deus do que os holocaustos e sacrifícios vãos (Os 6.6). É somente através da oração que podemos criar vínculos verdadeiros e transformadores com Deus.

Oração e Perdão caminham juntos, até porque viver em reconciliação com Deus exige a capacidade de reconciliar-se com o próximo. Quem busca o perdão de Deus não precisa sacrificar animais, e sim sacrificar a si mesmo, seus direitos e suas razões e liberar a graça sobre os outros para que assim possa experimentar a graça de Deus em si mesmo.

Nada disso se sustenta sem Fé, que significa confiar em Deus pelo que ele é, e não pelo que podemos fazer para “agradá-lo”.

Acredito que Jesus continua a procurar entre nós e nossas Igrejas o mesmo fruto que ele buscava no Templo. Uma vida que esteja além das aparências, porque nelas se esconde o engano. Mais do que religiosidade, prédios luxosos, estruturas metodicamente organizadas, espera-se mais profundidade com Deus, mais perdão, mais oração e mais fé.

Fica a triste mensagem: vidas firmadas em aparência sempre secarão por faltar a verdadeira essência.


Jorge Luiz