Existem muitos conceitos distorcidos na mentalidade dos evangélicos. Quanto mais comparo a mensagem de Jesus nos evangelhos com os nossos conceitos, percebo que não sabemos o que é Verdade, o que é Discipulado, o que é Comunhão.
Dentre esses conceitos, podemos destacar a profecia e a esperança. Quando falamos profecia, sempre pensamos em homens e mulheres que são dotados de um poder sobrenatural que os capacita a conhecer o futuro das pessoas antecipadamente. O profeta sempre é um vidente, um homem que vê o futuro e faz previsões não muito otimistas.
Esperança sempre tem haver com a morte e a vida eterna. A esperança cristã evangélica resume-se a viver com Deus na vida eterna do céu, ou mesmo ser arrebatado diante das tribulações. Ou seja, esperança sempre é um sentimento que leva para outro mundo, outra realidade, e não tem nada haver com esse mundo perdido e condenado que vivemos.
Mas se você ler o livro de Amós com atenção reconhecerá o quão enganado estamos em relação à profecia e a esperança. Nosso conceito é muito pobre, muito aquém da verdade bíblica. Nessa reflexão quero mostrar que Esperança e Profecia estão ligadas de tal maneira que um não faz sentido sem o outro.
Vejamos um breve resumo do livro da história contida no livro de Amós:
Naquele tempo Israel vivia um período de riqueza e prosperidade. Acordos políticos e comerciais com os vizinhos traziam prosperidade para os donos de terra, fazendeiros e agricultores de grande porte. Para gerar riquezas, alguém precisa ser oprimido e explorado. Assim o pobre e o necessitado passaram a ser vitimas da violência, da desonestidade e da extorsão dos ricos. A religião tornou-se parceira dos ricos e poderosos e passou a legitimar a opressão, afirmando que toda essa estrutura era da vontade de Deus. Pobreza sempre estava ligada a pecado e maldição. Não havia saída, pois Deus estava do lado dos opressores, e não dos oprimidos.
Num cenário como esse Deus levanta a última pessoa do mundo para ser profeta. Um estrangeiro simples precisou vir anunciar ao Reino do Norte por quê?
Pelo simples fato de que nunca haverá profetas e nunca haverá Esperança enquanto aceitarmos que o mundo em que vivemos está determinado por Deus. Para o verdadeiro profeta, o mundo não é produto da vontade de Deus, mas sim das escolhas do homem. A Profecia traz a Esperança porque ela revela novas oportunidades, revela que Deus tem outros caminhos que podem ser trilhados. A escritora Mia Couto define Esperança como aquele sonho que habita os homens em locais inacessíveis, onde a violência e a barbárie não podem golpear ou destruir. É a capacidade de renovar-se e lutar apesar de tudo que nos leva a pensar o contrário. Esperança não é um sentimento de passividade, mas uma força interior que gera atitude.
A profecia lança esperança porque resgata os valores de Deus. O mundo de Amós era coberto pela ignorância e insensatez. O profeta denunciava que os dízimos eram frutos do roubo e da exploração. Os sacrifícios de animais representavam um ato de remorso, e não um ato de contrição e arrependimento real. O profeta é alguém que anuncia a vontade Deus, que prega os valores que constitui o caráter divino e que devem ser replicados no nosso caminhar diário. Não há esperança sem resgate de valores, e isso é papel da profecia. Existe uma frase que diz que “quando não sabemos aonde chegar, todos os caminhos são válidos”. Esse é o nosso mundo, onde tudo é valido porque caminhamos sem direção, sem esperança.
A profecia gera esperança porque não se preocupa com interesses pessoais, mas com o grupo. O profeta não prega contra pessoas, não denuncia falhas pessoais, não aponta o dedo na cara de ninguém. O profeta sempre luta pelo bem comum. Sua mensagem não é para uma determinada classe, mas é universal. Fala a todos, fala ao oprimido para que não curve sua cabeça diante de tudo que lhe é imposto, e fala também ao opressor, para que reveja a maneira como trata o seu próximo. A mensagem cristã só será uma profecia de esperança quando realmente for universal, quando for compreensiva não somente a evangélicos, mas também aos que são diferentes e que não fazem parte do meu grupo. O profeta não entra em jogo de interesse, pois seu interesse é pelo bem de todos.
Profecia vive para esperança, e esperança é fruto da profecia bíblica. Um mundo sem esperança revela a falta de profetas. Testemunhamos a esperança se profetizarmos; e profecia é a capacidade de discernir a vontade de Deus em tempos confusos e sem esperança.
Por ultimo, profetizar não significa que a esperança tornar-se-á realidade. As nossas palavras podem ser insuportáveis para alguns e não gerar frutos que confirmem a esperança. Seremos expulsos como Amós também foi, e talvez não vejamos os resultados esperados, assim como Amós também não viu. Mas mesmo assim, só vale a pena profetizar se for através da Esperança. Só vale a pena ser profeta se você acreditar que existem outras possibilidades. Só vale a pena testemunha a esperança se você acredita em renovação.
Jorge
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