terça-feira, 17 de agosto de 2010

NOVOS EVANGÉLICOS: É DISSO QUE PRECISAMOS?


A edição nº 638 da revista Época teve como capa uma reportagem muito interessante: “Os novos evangélicos – um movimento de fiéis critica o consumismo, a corrupção e os dogmas das igrejas, e propõe uma nova reforma protestante”. A reportagem revela algo importantíssimo para mudar o imaginário do povo brasileiro, que enxerga o evangélico geralmente como alguém que busca apenas a prosperidade; o dízimo e a negociata com Deus. Para muitos, crente é sinônimo de cliente da “teologia” de Edir Macedo e Cia.
A reportagem mostra também que qualquer um pode ser evangélico sem abrir mão da inteligência e do bom senso. Pode sim haver cristãos com verdadeira consciência ambiental e que não se cala diante das injustiças e corrupções.
Porém, tem algo que me inquieta diante dos novos evangélicos: Apesar de reconhecerem a necessidade que os cristãos têm de recuperar os valores éticos e humanos, me parece que a ênfase se concentra mais nas questões eclesiológicas. Perceba que o foco sempre recai para as diferenças entre a igreja tradicional e as igrejas “emergentes”.
São coisas do tipo:
- “Nossas reuniões são informais, leves e mais dinâmicas que os cultos tradicionais!”
- “Não temos templo, nos reunimos nos lares”;
- “Não usamos o nome Igreja, mas sim comunidade, para evitarmos a carga negativa que aquele termo traz”.
- “Não sou mais evangélico! Agora sou cristão!”
Não negamos o valor que tem essa reformulação. Realmente vivemos dentro de muitos conceitos desgastados, e renovar é bom para que possamos respirar novos ares e desfrutarmos de novas experiências. O problema é que infelizmente tudo isso ainda é muito pouco.
Concentrar-se apenas nessas mudanças “cosméticas” é deveras efêmero. Não trará resultados práticos em longo prazo. Tais mudanças, apesar da enorme boa vontade, não são suficientes para chegarmos ao cerne do problema.
E qual é o cerne do problema?
O cerne do problema é a necessidade de uma transformação intima e pessoal, um reencontro com Cristo.
Lembro-me da leitura que fiz sobre a reforma que o rei Josias realizou em Israel (629 a.C). O texto de 2Reis 22-23 mostra um homem que foi profundamente tocado pela mensagem do Pentateuco (os cinco primeiros livros da Bíblia Hebraica) e que motivado pela Palavra de Deus, iniciou uma mudança radical na religião de seu pais. Enquanto era vivo, o povo de Israel seguiu a “nova religião” que ele trouxe, mas logo após sua morte, o povo voltou à velha condição de idolatria vivida antes.
Penso que estamos caminhando pelo mesmo processo de Josias e outros reformadores que surgiram na história. São mudanças externas e cosméticas, que tratam apenas do novo tipo de culto que faremos; da “nova doutrina” que seguiremos; do novo modelo de “comunidade” que adotaremos.
Não basta mudar os nomes ou as fórmulas se as doenças que se instalaram na alma e no espírito dos cristãos continuarem as mesmas. Tanto faz eu ser “crente” ou ser “cristão” se no meu coração as palavras de Jesus não estiverem gravadas. Tanto faz se eu me reunir numa “Igreja” ou numa “comunidade”, ou mesmo num “pequeno grupo nos lares” se no meu coração não há o entendimento de que é bom conviver como irmãos. Relacionamentos doentes não é um privilégio apenas das Igrejas tradicionais, e de certa forma as Igreja Emergentes estão mais suscetíveis a relacionamentos doentios, já que atraí multidões de insatisfeitos e magoados com a velha fôrma e que não estão curados.
Dificilmente as mudanças externas chegam a transformar nosso intimo. De certa forma Jesus já nos ensinou isso quando disse que o problema não é limpar o exterior do copo, porque o que contamina o homem está do lado de dentro. Não se faz uma nova Igreja sem antes alcançarmos uma mudança pessoal. Uma nova religião acaba se tornando sempre um novo entretenimento, que logo ficará desgastado, dando lugar a infindáveis reformas.
Sendo assim; para criarmos um cristianismo novo, leve, sadio e simples, precisamos muito mais que novas estratégias, muito mais do que uma nova reforma protestante. Precisamos mesmo é de cura da alma, de uma relação pessoal com Deus restaurada e renovada, de uma mentalidade mais bíblica do que midiática (formada pela mídia e os veículos de comunicação) e de uma conversão profunda que nos leve a abandonar o espírito individualista que tem nos dominado.
Tenhamos cuidado para não confundir remendos com transformação. Como já nos mostrou o rei Josias*, mudanças estéticas não permanecem.


*Obs: o nome Josias significa curado por Deus (consolado, ou mesmo salvo). Sugestivo não?

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