Nesses dias, estava lendo um reportagem policial que narrava o assassinato de uma pai de família na presença da esposa e dos filhos apenas porque bateu e quebrou o retrovisor do carro do assassino, essas noticias me causam um mal estar tremendo, e sinceramente, uma tremenda desilusão com o ser humano.
O delegado chamou o assassino de “animalesco”, porém, acredito que tal comparação é uma ofensa aos animais “irracionais”. Na fauna não é comum ver animais se matando por motivos tão banais, acho que o melhor adjetivo seria monstro¹, pois são os monstros que matam por prazer, desprovidos de humanidade, matam com requintes de crueldade e sem motivo “plausível” (se é que existe motivos plausíveis para matar).
Acredito que essa situação serve como um alerta para os verdadeiros cristãos, chegamos a um ponto crucial: Por muitos anos pregamos um evangelho que salva, mas que não cura ou mesmo transforma. Sendo assim, a mensagem de Cristo precisa ser terapêutica, e não salvadora.
O que eu entendo por salvadora: Quando afirmamos que a mensagem do evangelho é a mensagem de salvação, quase sempre estamos falando de um evento transcendente, futurista e que pouco têm implicações práticas no dia a dia do cristão. Sendo assim, tudo que fazemos como crentes salvos é apenas um reforço da nossa condição de salvos que só se concretizará no dia de nossa morte. “trocando em miúdos”, o evangelho da salvação é um evangelho que apenas fornece um passaporte para céu, para uma vida confortável no além, ou, somos salvos do inferno.
A história mostra que esse tipo de mensagem de fuga apenas reforçou em nós a condição de seres monstruosos. Pecamos e ficamos tristes, não pelo pecado, mas pela possível “perda da salvação”. Daí, surge a penitência, os castigos físicos e psicológicos e a futura reincidência no mal. Isso porque não fomos ensinados a entender que o pecado destrói nossa humanidade, e não a nossa relação com Deus. Demorei muito a entender (e de certa forma ainda não entendo plenamente, nem nunca entenderei) o amor incondicional de Deus, mas hoje sei que o pecado não interfere em nada no amor que Deus tem por mim. Contudo, Deus procura manter uma relação com o ser humano, e o pecado tira de nós essa condição de seres humanos, nos assemelhando cada vez mais a monstros.
Portanto, precisamos de um evangelho que priorize a ação terapêutica de Deus e isso implica dizer que o projeto de Deus é que sejamos novas criaturas hoje, agora, já nesse exato momento. Não precisamos ser salvos do inferno metafisico, mas sim, curados do inferno dos nossos desejos e instintos, pois este habita o coração e a mente das pessoas diariamente. Precisamos nos perguntar sobre como fazer do evangelho um remédio para curar os males de uma humanidade doente e deformada. A intenção da cura nunca deve ser com o objetivo de para ir para céu, mas com o objetivo de ser alguém melhor.
Jesus disse que aquele que tem o evangelho em si é como o sal da terra e a luz do mundo. Naquele tempo, esses eram os bens mais fundamentais para sobrevivência humana. Sem o sal, não era possível conservar alimentos, e sem alimento é impossível manter-se vivo. A luz, num mundo que não conhecia a energia elétrica, era essencial para que o homem pudesse ver e discernir o mundo no meio da escuridão total. Sendo assim, a deterioração da essência humana não significa que evangelho que vivemos já está insosso a muito tempo? O futuro sombrio que vislumbramos não seria consequência do evangelho sem luz que anunciamos?
Em meio a tanta monstruosidade, apenas reconheço que preciso todos os dias voltar para os ensinos de Jesus em busca de remédio para curar minhas doenças internas, abandonando as “tábuas da salvação” que me alimentam minha hipocrisia².
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1.Nas mitologias, os monstros são encarnações do mal, alguns agem de forma inconsciente, mas uma grande maioria entende que seus atos são contrários a todo principio ou revelação do que é bom e correto, e sua satisfação está justamente em destruir o que é valoroso. O egoísmo é uma das qualidades dos monstros mais exacerbadas, matar é uma questão de satisfação pessoal. Portanto, os crimes hediondos revelam a natureza monstruosa que cresce entre homens.
2. Sei que, nos evangelhos bíblicos, a mensagem da salvação não exclui o conceito de cura, de restauração da natureza humana. Apenas fiz essa diferenciação porque, com os anos, a religião cristã divorciou a salvação da cura, formando uma legião de “salvos doentes”.