domingo, 29 de julho de 2012

O que a humanidade quer e o que ela precisa ouvir

Hoje li uma reportagem na revista Época sobre um guru nascido no Brasil chamado Prem Baba. Não o conhecia, mas pelo texto da revista ele é famoso e atrai milhares de seguidores (famosos ou anônimos) entre aqueles que buscam os gurus da Índia e suas palestras. A reportagem fala sobre sua caminha de espiritual até chegar ao status de guru espiritual no hinduísmo. 

O que me chamou a atenção na reportagem não foi a história dele, mas uma fala da repórter Aline Ribeiro me chamou a atenção. Transcreverei na integra o texto:

"Não se trata de milagre (os feitos e o ensino do guru). Prem Baba fala o que a humanidade quer ouvir (grifo meu). Acolhe um mundo carente de conforto espiritual. Foge dos padrões das religiões cristãs, como o catolicismo ou protestantismo, segundo as quais Deus observa de binóculo qualquer tropeção aqui embaixo (grifo meu). O pai do amor (significado de Prem Baba) não faz sermão. Não julga. Nunca franze a sobrancelha. Parece sorrir com os olhos ininterruptamente. Tem a voz tão aveludada que é impossível não baixar o tom quando se conversa com ele. Sua missão, diz, é esbanjar o amor desinteressado".

Tirando os exageros e a falta de conhecimento acerca dos cristãos e do seu Deus, esse trecho me conduz a várias reflexões. Como a própria repórter diz, o sucesso do guru está em falar o que a humanidade quer ouvir. E o que a humanidade quer ouvir? Ora, nada mais senão uma mensagem de "amor desinteressado". Mas o que seria o tal "amor desinteressado"? Para entendê-lo, é preciso ver como a repórter descreve o Cristianismo: uma religião julgadora que cultua um Deus neurótico que existe apenas para acusar e castigar as pessoas por seus pecados.

Verdadeiramente a humanidade não quer ouvir falar sobre seus pecados. Muitos buscam uma espiritualidade que transforme o homem em deus. Quem não quer ouvir que é o máximo? Quem não quer alguém que ensine a receita para sua própria salvação? A humanidade busca uma espiritualidade que massageie seu ego e que levante sua autoestima. E quando for preciso falar sobre erros? Que seja bem sutil e genérico, sem dar "nome aos bois"

A diferença do Evangelho de Jesus Cristo é que ele não fala o que a humanidade quer ouvir, mas o que ela precisa ouvir. Reconheço que não é uma missão agradável ou mesmo fácil. Reconheço também que a maioria dos líderes cristãos realizaram um desserviço ao pregar um Deus tão severo que alimentou descrições simplistas e preconceituosas como a da repórter de Época. 

Contudo, é necessário continuar pregando sobre o pecado, e ainda mais sobre a graça de Deus. Falar aquilo que os homens precisam ouvir não significa ser desagradável, mas sim verdadeiros. Anunciar o que Jesus fez pela humanidade revelará que Deus é o verdadeiro Pai de Amor (e não Pream Baba). Mostraremos às pessoas que Deus não vive atrás de nossos pecados, pois eles já foram perdoados na cruz do Calvário. Se há algo que Ele procura, isso se chama Relacionamento. 

A questão é que relacionamento com Deus exige que sejamos francos e humildes. Exige reconhecer quem na verdade somos, com nossas falhas e capacidades. O amor de Deus realmente não é desinteressado; mas ao contrário do que pensa a repórter e muitos outros, ele não é interessado em nossa perfeição moral ou em nossos rituais religiosos, mas em nossa sinceridade e amor.

No dia em que a humanidade reconhecer o verdadeiro Pai de Amor, perceberá que ele não é um desocupado bisbilhoteiro, que com binóculos na mão fica a espiar a vida da pessoas. Mais do que espiar, ele deseja participar de nossas vidas como um verdadeiro guia e amigo.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Fé para além do milagre (Mateus 11)

Ontem experimentei um daqueles raros momentos em que Deus respondeu minhas indagações. Estava a refletir sobre a contradição da fé cristã no Brasil após a divulgação dos últimos resultados do censo realizado em 2010. Cresce o número de cristãos, porém, são escassos os sinais do Reino de Deus na sociedade. Como explicar isso? Porque a mensagem do Evangelho não impacta as estruturas decadentes de nosso país? Porque o aumento do número de religiosos não implica em mais discipulos de Cristo?

Sei que você que está lendo esse texto deve possui suas teorias quem respondem essas minhas "tolas" perguntas. Eu também tenho as minhas. Contudo, ontem durante a leitura de Mateus 11, senti como se Deus estivesse me ajudando a discernir essa situação. Para compreensão da minha breve reflexão, sugiro a leitura do texto bíblico.  

Este capítulo trata de João Batista e Jesus, e seus papeis na sociedade judaica do séc. I. João Batista queria saber se Jesus era o tão aguardado Messias que ele mesmo profetizou em seus ensinos à margem do Jordão. Jesus não responde com um simples "sim", mas convida João e os seus ouvintes a perceberem que suas ações já mostravam quem ele realmente era. Para Jesus, o que importa não é afirmar-se como Messias, mas viver e agir como o Messias. O mesmo vale para nós. Não basta dizer que é cristão, seus atos precisam estar alinhados com sua fala.

As dúvidas de João e seus contemporâneos quanto a Jesus nasceram dos mitos religiosos acerca do agir de Deus. Expectativas erradas cegam nosso entendimento para a percepção do que Deus realmente está fazendo.

Só assim é possivel entender as palavras de condenação de Jesus contra as cidade de Corazim, Betsaida e Carfanaum e todo o contexto do capítulo onze. Pois apesar das curas, das libertações de demônios e dos muitos outros sinais, não houve fé para além do milagre. Desconfio que esse é o mesmo mal do nosso cristianismo tupiniquim.

Não falo de outro tipo de fé, mas de um aprofundamento da fé que já existe. Jesus lamenta que mesmo com todos os sinais miraculosos e com o ensino do evangelho feito publicamente, não houve uma fé que transformasse o coração daquele povo. Existem um nivel de fé que pode curar as doenças do corpo, mas somente uma fé mais profunda pode curar as doenças da alma e do caráter.

O que isso tem haver com as minhas perguntas iniciais? Tudo haver! A fé cristã no Brasil cresce movida pela expectativa do milagre e da manipulação do divino, e no geral não passa disso. Tal constatação já extrapola os arraiais dos neopentecostais. Nosso país vive um cristianismo adoecido porque a fé do nosso povo ainda não aprofundou-se o bastante para transformar o caráter a tal ponto de nos tornarmos discípulos do Reino. Somos crentes ou católicos, mas dificilmente discípulos de Cristo.

Só que há muitos que "se acham" discípulos de Cristo, e isso porque alimentam expectativas erradas sobre Jesus. Convicções de fé são importantes e necessárias, mas se não forem constantemente revistas e atualizadas serão como véu que impede uma visão plena de Deus e de suas ações. Você já parou para pensar que seus conceitos de fé podem estar lhe impedindo de enxergar a Deus com mais profundidade?

Jesus nos ensina que a visão do Messias e do Reino de Deus está disponível não aos sabichões, mas aos simples. Estes não estão impedidos de reaprender e reavaliar e são capazes de discernir se as ações são coerentes com o discurso. Estes já não se sentem cansados e sobrecarregados com toda essa incoerência, mas vivem uma vida leve porque simplesmente decidiram aprender de Cristo com a mente aberta.

Que estes poucos possam crescer e invadir nossa religiosidade cristã, transformando-a em algo mais coerente com tudo aquilo que Jesus fez e ensinou. Esta é minha oração.


Jorge Luiz