quarta-feira, 27 de junho de 2012
Texto no site da Ultimato
Escrevi um texto publicado no site da Revista Ultimato, na área do leitor. Segue o link: http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/buscando-o-equilibrio-em-cristo
quinta-feira, 21 de junho de 2012
Comentário sobre o livro Igreja Simples
Alguns amigos me consideram alguém totalmente decepcionado com a Igreja. Até certo ponto essa percepção está correta. Sou sim um cara profundamente decepcionado com muita coisa por aí que o pessoal chama de Igreja. Já me decepcionei com meus heróis e acabei enfadado com as estruturas, as propostas e os discursos. Soma-se a isso a belicosa polaridade teológica entre liberais e fundamentalistas que assistimos hoje e você acaba encontrando um caldeirão de coisa que te deixa realmente enojado com tudo.
Sou um decepcionado sim, mas não deixei de acreditar no chamado de Jesus para uma vida espiritual autentica. E por incrível que pareça, ainda acredito que a vida em comunidade de fé é um aspecto indispensável desta verdadeira espiritualidade.
E por ainda acreditar foi que eu comprei e li o livro Igreja Simples, da Editora Palavra. Ora, nada mais convidativo para um frustrado como eu! (risos).
De ante mão afirmo que o livro é bom, mas é preciso lê-lo com um olhar criterioso e seletivo. Como a maioria dos livros de autores estadunidenses, a proposta é vender "A" ideia que transformará definitivamente sua vida. Devido a uma pesquisa os autores conseguiram encontrar o "Verdadeiro DNA da Igreja" que há séculos estava escondido. E os números comprovam.
O livro está mais próximo de uma consultoria administrativa do que mesmo uma séria revisão eclesiológica, com base em rica exploração bíblica. Do contrário, as citações bíblicas são utilizadas apenas como ilustração da teoria administrativa. Em tempos de conhecimento bíblico raso, não é de se espantar.
Como disse, esse livro precisa ser lido de forma criteriosa, assim como quem come um peixe atento para não engolir espinha. E já que eu tirei um bocado de espinha, posso retirar aquilo que me alimentou.
O livro tem uma proposta de organização da Igreja em torno da ênfase do discipulado, e isso é ótimo. Contudo, a própria visão de discipulado dos autores é deficitária. Segundo eles, o discípulo deve conectar-se a Deus (geralmente isso está atrelado ao culto), conectar-se com os outros (participar de um pequeno grupo) e fazer discípulos (servindo num ministério da Igreja ou fazendo simplesmente proselitismo).
O discipulado deve estar no centro da organização, da teologia e do discurso da Igreja, e isso é bíblico (Mt 28:18-20). A questão é que o discipulado de Jesus propõe que o amar a Deus é algo maior e mais profundo do que simplesmente comparecer à cerimonias religiosas. Consequentemente, amar ao próximo é muito mais do que participar de um grupo de afinidades, assim como fazer discípulos é algo muito maior do que uma adesão religiosa. A ideia do livro é boa, mas carece de uma reformulação mais bíblica sobre o que seria de fato um "discípulo".
Seguindo a argumentação, os autores mostram que, para se fazer uma Igreja Simples, é necessário haver quatro pontos essenciais para o planejamento e execução de suas atividades. A base consiste em:
Clareza - Movimento - Alinhamento - Foco
Clareza: é a capacidade de uma Igreja definir sua "filosofia de trabalho" de forma clara e simples. Quanto mais claro forem os processos, maior será a internalização por parte dos discípulos. Uma Igreja Simples tem uma declaração de missão curta e direta, simples de ser memorizada e repassada de forma fácil.
Movimento: é a capacidade de conduzir as pessoas pelo processo. Aqui as atividades são ligadas ao processo. Por exemplo, se a primeira etapa do processo simples é amar a Deus, a atividade que deve estar ligada a esse princípio é o culto dominical. Não basta apenas associar uma atividade a um principio, é preciso conduzir as pessoas para que elas desejem participar das atividades como forma de crescer no processo.
Alinhamento: é a capacidade de alinhar a Igreja em torno desse processo. Nesse caso, a escolha dos lideres se dá não apenas pelos dons e talentos que ele revela, mas principalmente pelo seu comprometimento com o processo. Explicar e dirimir dúvidas quanto ao processo fazem parte do alinhamento.
Foco: é a capacidade de redirecionar toda a programação da Igreja para atender ao processo do discipulado. Aqui inclui eliminar atividades desnecessárias, reformular outras que possam ter afinidades com o processo, e acima de tudo, criar novas atividades somente quando for estritamente necessário.
Fica claro que a estrutura desenhada pelo livro é totalmente inspirada na ciência administrativa, e sinceramente não acho isso condenável. Na verdade, todo ajuntamento humano precisa ter essas qualidades. Contudo, a forma quase absolutizada com a qual esses aspectos são defendidos revelam que o modelo acaba por ser endeusado pelos membros. É muito perigoso, por exemplo, absolutizar o alinhamento e o foco, pois quando se faz isso, acabe-se sempre por atropelar as pessoas, desrespeitando suas individualidades. Não podemos esquecer que na Igreja de Jesus as pessoas são mais importantes do que os resultados.
Concordo que uma Igreja precisa ter clareza quanto a sua missão, formulando de maneira simples. da mesma forma, também acredito que a Igreja deve preocupar-se conduzir as pessoas pelo crescimento espiritual, mas sempre lembrando que tal missão não exclui o aspecto pessoal desta transformação.
Também penso que o alinhamento e foco é algo essencial. O próprio Cristo ensinou que um reino dividido não subsiste (Mt 12.25). Contudo, o foco não é no processo, mas nas pessoas; assim como o alinhamento não deve ser com o processo, mas entre pessoas que se alinham apesar das suas diferenças.
A impressão geral que fiquei ao terminar o livro foi essa: o processo acaba se impondo sobre as pessoas. Um pastor não guia suas ovelhas através de coleiras. Deve haver espaço para liberdade, para criatividade e para seguir novos rumos. Quando você entende que o processo deve ser mantido a todo custo, acaba por matando a criatividade das pessoas e passa por criar uma verdadeira aversão pelo novo.
Por fim, acho que há muitas dicas boas no livro. Ele pode contribuir sim para que venham surgir Igrejas simples, autênticas, íntegras. Os autores propõem acertadamente que as Igreja devem organizar cada aspecto de sua estrutura e organização de forma a atender melhor o chamado de discipular. No entanto não devemos absolutizar uma visão a ponto de torna-la mais importante do que as pessoas. Uma Igreja não vive pelo processo, mas vive por gente.
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